Uma Mesa de Natal Não Gastronómica

Cá em casa somos fãs incondicionais de Jogos de Tabuleiro. Sempre fizeram parte da nossa infância. Eu conseguia levar o meu pai à exaustão com jogatanas de Monopólio. Ele e a irmã passavam horas e horas na jogatina. Quando juntámos os trapinhos, juntámos também os nossos jogos de tabuleiros, e continuámos a investir nesta forma perfeita, didática e feliz de divertimento. Continuamos a unir a família em torno de sessões e mais sessões com dados, cartas, tabuleiros, pauzinhos, risos, batotices, algumas birras e muito convívio. São dos momentos mais ricos e que conseguem unir as diferentes gerações. Se por um lado, eu encaro os jogos de tabuleiro como puro entretenimento. Já ele...ele vai mais longe. Gosta de os conhecer, por dentro e por fora, de onde são, que prémios ganharam, quem os desenhou, qual a crítica, quais as influências. Eu aprecio o entusiasmo todo e deixo-me ir na vontade de ir aumentando a nossa ludoteca. Como os jogos de tabuleiro são algo que nos diz muito, tive de o convidar a ele, o meu querido Ireneu Nogueira, mentor do blogue Cardume de Rodovalhos, criador de RPG's de papel e caneta, apaixonado por jogos de tabuleiro, (meu mais que tudo) que partilhasse no blogue um artigo sobre este assunto. Um desafio que prontamente aceitou e que resultou numa proposta maravilhosa. Este artigo não pretende ser um post comercial, publicitário, ou promocional de determinados jogos, apenas um apelo para famílias e amigos se encontrem numa "Mesa de Natal Não Gastronómica".



Todos temos, na nossa memória, recordações familiares da noite de consoada e do dia de Natal. Não é de admirar. Mesmo em famílias que se vêem regularmente há algo de singular nesta reunião natalícia e para muitos de nós os sabores e cheiros de Natal têm um travo especial - podemos comer bacalhau cozido durante o resto do ano mas nunca nos sabe exactamente igual.

Mas o que guardamos desta época não é (ou pelo menos não deveria ser) só conversa à volta de uma boa mesa recheada de fritas, sonhos, rabanadas e frutos secos, ou trocas de prendas com muita gargalhada e rasgar de papel colorido à mistura. No meio dos famigerados (mas sempre úteis) pares de peúgas, dos livros recomendados por terceiros e dos implementos de cozinha que gritavam, no invólucro, resolver problemas que a maioria de nós nunca soube que estava a ter quando prepara uma salada, dos brinquedos de mil cores facilmente olvidados em meio ano, lá vinha, de vez em quando, uma caixa com algo que, invariavelmente, trazia algumas das melhores memórias de Natal que se pode ter. Estou a falar de jogos de tabuleiro.

Recordo-me que quando eu, ou um familiar com quem estivesse a partilhar esse momento da abertura das prendas, recebia um jogo de mesa havia algo de magicamente brilhante em tirar parte da comida da mesa de Natal e ter toda a família a tentar descobrir como se jogava - muitas vezes sem ninguém ler claramente as regras - e fazer um “campeonato” improvisado em que todos, activamente ou só a mandar palpites, participávamos.

Por isso o meu apelo para esta quadra (principalmente se têm poucas ou nenhumas memórias de reunião familiar à volta da mesa que envolvam dados, pinos, tabuleiros de cartão desdobráveis e cartas várias) encostem a comida a um lado da mesa e reservem o resto dessa tão ilustre peça de mobiliário para um rodízio de diversão, competitivo ou cooperativo, individual ou em equipa, para novos e para velhos em que a única regra obrigatória é mesmo passar um bom bocado entre família e amigos.



Seguem abaixo algumas sugestões de jogos para terem na vossa mesa de Natal. Boas Festas!
 

  1. Monopólio (ou agora sou obrigado a dizer Monopoly?): o imorredoiro jogo de compra e venda de terrenos da Hasbro permanece, no nosso país, um dos mais queridos exemplos de jogo de tabuleiro e um que praticamente toda a gente já jogou numa versão ou outra. Ponham a vossa cartola e o vosso monóculo e toca a fazer chover notas! Lembrem-se só que nenhum dinheiro vai para o meio do tabuleiro e que a casa do Estacionamento Livre não tem qualquer real propósito. A sério. Vocês e as vossas regras da casa…
  2. Cluedo: tentar encontrar o assassino pode parecer um pouco mórbido para a quadra natalícia mas a premissa é só uma desculpa para chegarmos à chicha do jogo. Um jogo de bluff e dedução com regras tão simples que o seu livrete ocupa menos espaço que este artigo.
  3. Party & Co.: um dos mais famosos exemplos de jogos para festas (e também com inúmeras versões), este caixotinho de alegria representa a quintessência deste subgénero dos jogos de mesa. Um jogo com facetas de muitos outros jogos (Trivial Pursuit, Pictionary, Gestos, entre outros) garante que todos podemos encontrar nele algo que gostamos.
  4. Paga e Cala: um jogo da Majora (agora com nova edição) que surgiu como versão portuguesa (oficial ou meramente inspirada não sei dizer) do Pay Day da Hasbro - por vezes editado entre nós como Fim do Mês - traz para a mesa outro jogo de regras simples que toda a família consegue abarcar e cuja premissa ninguém estranha. Temos de chegar ao fim de cada mês e pagar as nossas contas… Talvez seja demasiado “vida real” para alguns de nós, não?
  5. Jogos de Mesa Tradicionais: a vossa família não é lá muito dada a estas modernices dos tabuleiros de papelão? Gostam é de passar os dias nas mesas de jardim a jogar “à batota”? Não há problema, primeiro façam-nos ver que alguns destes exemplos serão, originalmente, tão ou mais velhos que eles, depois vão buscar o sempre pronto baralho de cartas, ou o conjunto de pedras de dominó esquecido no fundo da gaveta. Para um grupo reticente em experimentar outros jogos umas boas velhas vazas de bisca ou sueca são o melhor remédio para amolecer a resistência a coisas mais “exóticas”.
P.S.: Esta lista ignora grandes e divertidos exemplos de jogos de tabuleiro que ficariam bem em qualquer mesa de Natal, recentes e antigos, não porque não tenham categoria para aqui estar, mas porque o meu intuito era puxar por esses cordelinhos tão intimamente ligados à (re)descoberta de actividades lúdicas favoritas, a simplicidade, a diversão despreocupada e a nostalgia.

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