Bolo de Courgette e Pera

 

Em tenra idade, quando a escola era ainda uma miragem e os dias eram passados em casa, se havia coisa que eu detestava era de acompanhar os avós nas tarefas agrícolas. A minha avó costumava contar histórias de birras infinitas protagonizadas pela minha pequena pessoa. Terra que voava alguns metros, canteiros que eram desfeitos em momentos de raiva, culturas que eram arrancadas pela raiz. Ou seja, birras mesmo feias. Contudo, lembro-me pouco delas dada a idade reduzida.  Julgo que o meu cérebro preferiu eternizar os momentos pacatos a olhar para os regos da água, nos quais eu introduzia folhas que se transformavam em barcos. Até onde iriam aqueles barcos? Até ao mar de batatas ou até ao oceano do milho? Momentos vividos ao sabor da imaginação infantil.

Olhando para trás, sinto uma enorme gratidão pela paciência dos meus avós. Foi graças à insistência deles em me introduzir nas lides agrícolas que hoje sinto que o campo é a minha casa, a minha alma. Identifico-me com o interior, com o verde, com os pinhas que tocam os campos de cultivo, com a rochas graníticas que elevam o relevo a outro patamar de beleza, com os calos nas mãos de pois de uso de uma enxada, com as colheitas, às vezes toscas, que servem de subsistência todo o ano, com os agricultores que todos os anos enfrentam a incerteza e a dureza de uma vida que depende da mãe natureza.

Sinto cada vez mais orgulho nestas minhas raízes rurais. Raízes que tento fazer crescer. Partilhei convosco no instagram, que inspirados pela Covid e pela quarentena, eu e os meus pais decidimos revitalizar um campo agrícola dos meus avós, que há muito apenas acumulava mato. Todos os anos fazíamos questão de o limpar, até para segurança de todos, mas não o cultivávamos. Em Maio, já tarde para o ano agrícola, mas lá conseguimos deitar mãos à terra e começar a produzir os nossos próprios alimentos. Seguimos uma das regras que vos falo sempre, devemos plantar e semear legumes, verduras, frutos que gostamos de consumir. Courgettes, Tomates, Alfaces, Feijões, Ervas Aromáticas, Abóboras, Melões, Pepinos. Maioritariamente, foi nestes cultivos que centrámos o nosso esforço. Começámos tarde, e ainda sem grande conhecimento, mas a terra tem-nos agradecido o esforço, com colheitas deliciosas. Colheitas que tenho transformado em receitas reais, sazonais, que enchem o prato, os olhos e a alma.

Esta experiência tem-me alertado para a questão da sazonalidade. Ao longo dos anos tenho feito o esforço de tornar a minha alimentação mais sustentável. Ainda não sou vegan, mas reduzi em muito o consumo de carne, de peixe, entre outras pequenas mudanças. Mas confesso que nem sempre adquiro ingredientes da época. Porém, experienciando a vida agrícola, com os seus ritmos, com as suas colheitas torna-se mais fácil compreender que ingredientes devo usar consoante o mês ou estação. Nas últimas semanas, por exemplo, temos comido courgette de todas as maneiras. Em sopa, em bolos, em doces, em salgados. Já para não falar dos tomates que, apesar de pequeninos, são sumarentos e deliciosos. Estas últimas semanas, fizeram-me pensar que é este o caminho que também quero seguir aqui no blogue. Partilhar, maioritariamente, receitas que se enquadrem nas estações e nos ingredientes que elas nos oferecem. A receita de bolo que hoje partilho convosco, enquadra-se perfeitamente nessa filosofia. Tirando as natas, o fermento e a farinha, os ingredientes resultam do esforço familiar, da nossa aventura agrícola. Até as flores da decoração foram cultivadas cá em casa. Espero sinceramente que gostem. 

 Bolo de Courgette e Pera
(Receita inspirada no livro "Bolos para a Família", de Sarah Randell)

Tempo de preparação: 60 min.
Dificuldade: Fácil
Quantidades: 12 fatias

Ingredientes:
200g courgette ralada
130g pera ralada
350g farinha de trigo
4 ovos
250ml de óleo de girassol
150g açúcar
1 colher de chá fermento em pó
1 colher de chá de bicarbonato de sódio

Modo de preparação:

  • Pré-aquecemos o forno a 180ºC.
  • Untamos uma forma com 20cm de diâmetro.
  • Peneiramos a farinha, o fermento e pó e o bicarbonato de sódio para dentro de uma tigela.
  • Na taça da batedeira eléctrica juntamos os ovos e o açúcar.
  • Batemos bem até a mistura dobrar de tamanho.
  • Acrescentamos o óleo de girassol.
  • Adicionamos os ingredientes secos e voltamos a bater.
  • Com uma colher de metal envolvemos na massa a courgette e a pera.
  • Vertemos a massa na forma já preparada, espalhamos com uma espátula para criar uma camada uniforme.
  • Levamos ao forno durante cerca de 45minutos ou até a massa ter crescido e estar firme ao toque. Desenformamos os bolos completamente frios.
  • Recheamos e cobrimos com natas frescas batidas.

 

 

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