Pão de Milho e Trigo [De quarentena com... #01]

Após duas semanas de quarentena, após o choque inicial de uma completa mudança de vida, após as angústias sobre o futuro (angústias que admito estão a tornar-se a minha segunda pele) e as saudades que pulsam no meu coração, quis fazer uma pequena brincadeira aqui no blogue. Uma nova rubrica que aligeire um bocadinho esta situação toda, que una as pessoas, que partilhe trabalhos ou vivências de quem me inspira diariamente. Pensei muito antes de deitar mãos a esta nova ideia. Sei que se calhar o mood geral ainda não é o de brincar com o assunto, mas, a verdade é só uma, vamos ficar em casa e vamos, vamos ter de arranjar forma de nos evadirmos à realidade e vamos. Por isso, hoje lanço a rubrica “De quarentena com…”, na qual vou partilhar pessoas que já sigo há algum tempo e também uma receita que de alguma forma para mim esteja relacionada com essas pessoas. Vou tentar identificar receitas simples e necessárias neste tempo de crise.
Para o primeiro artigo desta rubrica, apresento-vos a Carla Rocha, autora do blogue Cozinha à La Carte. Conheci-a num workshop de Food Photography e percebi logo que estava perante uma verdadeira mestre na cozinha.

Sabem aquela comida caseira, verdadeira, a que muitas vezes chamamos casa? O trabalho dela é assim, sem artimanhas, sem filtros que mascaram a realidade. As receitas que nos propõe são indicadas para todos os dias, honestas, com ingredientes que todos conhecemos. A Carla inspira-se também em receitas internacionais, mas nota-se que é uma fã e defensora da cozinha portuguesa. Aquela que nos aquece o estômago e consola a alma.
Eu confesso, às vezes tenho um bocadinho de inveja da Carla. Porque muitas vezes, enquanto ela está a partilhar, no Instagram, vídeos passo a passo de receitas maravilhosas, estou eu a comer restos, ou sopa, ou algo desenxabido. Nesses dias, fico com uma fome, nem queiram saber! Não imaginam! E quando eu vejo esses vídeos ou Pequeno-Almoço e fico com vontade, logo de manhã cedinho, de comer Polvo Estufado com Cerveja ou Bifanas à Moda do Porto. Carla, isso não se faz.

Começam a compreender porque gostaria de passar a minha quarentena dentro desta casa maravilhosa onde os cheiros, as texturas e os sabores são tão ricos, certo?
Mas há outro motivo especial que me leva a acompanhar o trabalho honesto e delicioso dela. A Carla tem uma costela de padeira. No tal workshop onde nos conhecemos, a Carla levou um dos seus pãezinhos preparados com massa mãe. Conquistou-nos a todos.

Nota-se que ela tem um gosto especial em amassar pão de todos os dias. São inúmeras as receitas que ela partilha sobre esta temática e tem sido com ela que vou tirando as minhas dúvidas sobre como fazer pão.

Como estamos todos em casa, muitos de nós sem acesso a padarias (e verdade seja dita não estamos em altura de andar na rua a comprar pão fresco) a Carla lançou no Instagram o desafio #voufazerpaoemcasa. Não sei se ela terá sido a primeira, mas ela espicaçou os seus seguidores a abraçar este desafio com uma receita de pão de trigo sem amassar. Uma ideia genial para pessoas que como eu não têm grande jeito para esta arte (produzir pão é para mim uma arte).

Eu experimentei e fiquei rendida. Tão rendida, que já penso seriamente em passar à próxima fase, tentar fazer pão com fermento natural. Se por acaso estivesse de quarentena com a Carla, ela teria de me ensinar todos os truques desta arte.

Nestas experiências de preparar o meu próprio pão e como a farinha de trigo começa a escassear na despensa, decidi misturar farinha de trigo com farinha de milho. Ultrapassou, todas as minhas expectativas. É essa receita que partilho convosco, uma receita de pão inspirada no trabalho da Cozinha à La Carte. Espero que gostem.


Pão de Milho e Trigo

Tempo de preparação: 10 min + 12 horas + 55min
Dificuldade: Fácil
Quantidade: 1 pão

Ingredientes:
300g de farinha de trigo T65
200g de farinha de milho
7g de fermento seco de padeiro
9g de sal
360g de água morna

Modo de preparação:

Numa taça grande, misturamos a farinha de trigo e a farinha de milho. Num dos lados da taça, colocamos o sal, no lado oposto colocamos o fermento. Adicionamos a água e misturamos com uma colher de pau até obtermos uma bola. Devemos raspas as paredes da taça, para aproveitarmos toda a massa. Tapamos a taça com papel aderente e colocamos a repousar em local seco e sem correntes de ar. Como os dias estão frios e a minha casa é gelada, costumo embrulhar a taça com uma manta. Deixamos a massa levedar, entre 8 a 12 horas. O objectivo é a massa dobrar de volume. Eu comecei a fazer este pão às 21h30 e só levei ao forno na manhã seguinte. Quando a massa estiver pronta a ir ao forno, ligamos o forno a 250ºC. Colocamos dentro do forno, a aquecer, uma panela de ferro, de barro ou de pirex, cerca de trinta minutos. Caso não tenham nenhum destes recipientes, podem improvisar. Eu por exemplo não tenho, então uso uma forma de bolos e por cima uma tarteira. Obviamente que o resultado não é exatamente o mesmo, mas resulta na mesma bem. Enfarinhamos a bancada de trabalho e vertemos a massa por cima, com cuidado para não retirarmos muito ar. Formamos uma bola, colocamos por cima de uma folha de papel vegetal. Retiramos o recipiente do forno e colocamos lá dentro o papel vegetal com a massa. Tapamos e levamos ao forno durante 30 minutos. Após 30 minutos, tiramos a tampa do recipiente e deixamos cozer durante mais 25 minutos. Retiramos do forno e do recipiente e deixamos arrefecer por cima de uma grelha de arrefecimento. Comemos desalmadamente, ou se tiverem de racionar como eu, cortem uma fatia e voltem a arrumar o pão longe da vista.


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