Natal Serrano | Os sabores, cheiros e texturas de outros natais

Mesas fartas, com comida de conforto, que aquecem os primeiros dias sombrios e gelados de inverno e acalentam o coração. Mesas fartas, fruto do vigor das mãos e da forte vontade em unir a família. Mesas fartas de doces amassados com amor, sem qualquer ajuda robótica. Mesas fartas, sem grande etiqueta decorativa, colocadas em cozinhas descomplicadas cujo calor emanava não só da lareira rústica, como também dos olhares agradecidos pelo ruído, pela animação, pelos abraços. Mesas fartas de sorrisos, de uma graçola mais picante, de silêncios de homenagem, de histórias de outros tempos, de resmungos, mas também de muita gratidão.
São estas memórias que eu, a Lúcia e a Sónia (da Guida Design Eventos) associamos ao Jantar de Consoada ou ao Almoço do Dia de Natal. Memórias com cheiro a fritos e a lume quente, sabor a calda doce e a textura de petiscos serranos. Memória de tempos que nos fazem sentir muita saudade. Memórias de um Natal Serrano que queremos muito passar às nossas gerações mais novas. 

Por isso, quando pensámos o editorial sobre um Natal Serrano, tivemos a mesma sensação, era urgente para nós resgatar os nossos avós, resgatar as coisas simples que sempre fizeram do Natal, um momento de verdadeira celebração do amor, da paz, da família.

Depois de prepararmos coroas singelas, recorrendo ao que a mãe natureza nos oferece e a elementos que estão ligados à nossa infância natalícia, montámos uma mesa sem grandes artificialismos, sem grande decor moderno, apenas com os ingredientes que sempre fizeram sentido na nossa história e que representam também a identidade do interior. Preparámos uma mesa como a de outros tempos, em que cada elemento da família contribua com algo, petiscos ou doces resultantes do seu esforço e do seu conhecimento da vida.


Das nossas raízes da serra (das serras) trouxemos os queijos de produtores locais e os enchidos caseiros, que se fizeram acompanhar da broa de milho tão característica da zona de Viseu. Em cima da mesa, uma tábua de queijos, onde brilharam os frutos secos apanhados pelos nossos familiares. Acendemos também a lareira e preparámos petiscos com sabor a grelha fumada.

Tal como os nossos avós nos brindavam com conservas caseiras, também nós deitámos mão às panelas e preparámos para este dia Marmelada, Doce de Cereja, Doce de Abóbora, Doce de Marmelo.

Interiorizámos que as coisas boas da vida têm o seu tempo e quisemos também dar atenção aos produtos sazonais. A maçã da região sentou-se à mesa connosco num Crumble de Maça (Abaixo, podem encontrar a receita). As batatas doces colhidas no final do Verão juntaram-se ao dióspiro da época num Bolo Húmido. 


E para que tudo tivesse uma magia ainda maior, recriámos o calor humano das cozinhas dos nossos avós, com manjares também eles de conforto de outros tempos.

A mãe da Lúcia preparou um delicioso Arroz de Míscaros, tão português, tão interior, tão quente, tão delicioso.

Eu deitei mãos a uma das grandes paixões da minha avó, as castanhas e confeccionei um creme de castanhas e cogumelos e umas empadas com os mesmos ingredientes. (Abaixo podem encontrar a receita do Creme). 

Com a nossa generosidade voltámos às Mesas fartas de outrora. Comungámos em conjunto, não só da comida, mas também das nossas partilhas tão íntimas. Posso dizer-vos que chorámos, que sentimos em cada garfada saudades daqueles momentos singelos em que tudo fazia sentido, em que toda a harmonia parecia juntar-se à mesa de mãos dadas com a vontade de comer. 

Permitam-me recorrer novamente ao padre e escritos Tolentino de Mendonça, que em 2011 tão bem escreveu sobre como ato de comer vai muito além daquilo que ingerimos. “À mesa não nos alimentamos apenas ao mesmo tempo e dos mesmos alimentos. Alimentamo-nos uns dos outros. Somos uns para os outros, na escuta e na palavra, no silêncio e no riso, no dom e no afeto, um alimento necessário, pois é de vida (e de vida partilhada) que as nossas vidas se alimentam.” 

E foi isto mesmo que pretendemos recriar e viver com esta segunda parte do editorial Natal Serrano. Esperamos, eu, a Lúcia e a Sónia, que com este nosso trabalho vos tenhamos inspirado a viver esta época com mais sentido, ou pelo menos a viverem-no de acordo com as vossas recordações, com a vossa humanidade.

Seja ele um Natal Serrano ou não, tenham um Feliz Natal. 

Creme de Castanhas e Cogumelos

Tempo de preparação: 50 minutos aprox.
Dificuldade: Fácil
Quantidade: 6 pessoas

Ingredientes:
  • 1 cebola pequena
  • 2 colheres de sopa de azeite
  • 100g de abóbora
  • 200g de alho francês
  • 250g de castanhas previamente assadas e picadas finamente
  • 100g de cogumelos marron
  • 1,5l de água
  • Sal q.b.
Modo de preparação:
  • Lavamos todos os legumes.
  • Descascamos a cebola e cortamos em fatias fininhas.
  • Cortamos o alho-francês em rodelas, picamos os cogumelos, e cortamos a abobora em cubos pequeninos.
  • Num tacho colocamos o azeite, com a cebola e as castanhas e levamos ao lume durante dois minutos.  
  • Juntamos na panela o alho-francês, os cogumelos e a abóbora. Mexemos e deixamos cozinhar, com a panela tapada, durante cerca de 8 minutos.
  • Adicionamos o litro de água e o sal. Deixamos cozinhar cerca de 30 minutos em lume brando.
  • Trituramos o creme com a varinha mágica, rectificamos o tempero, se for necessário.
Crumble de Maça

Tempo de preparação: 35 minutos aprox.
Dificuldade: Fácil
Quantidade: Indicado para 6 pessoas

Ingredientes:
  • 1 kg de maçãs descascadas e cortadas em cubos
  • 250g de farinha sem fermento
  • 100g de açúcar amarelo
  • 150g de manteiga
Modo de preparação:
  • Numa taça própria para ir ao forno colocamos a maça cortada em cubos pequenos;
  • Juntamos cerca de 50g de açúcar e mexemos;
  • Numa tigela colocamos a farinha, 50g de açúcar e a manteiga;
  • Com as pontas dos dedos misturamos, até obtermos uma mistura granulada, tipo areia;
  • Cobrimos a maçã com esta mistura granulada;
  • Levamos ao forno durante 20 minutos.


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