Existem dias em que me apetece fugir a sete pés da internet,
dos algoritmos e dessas cenas tipo “engagement”. Existem dias em que o vive e
deixa viver se transforma num“o que é isto” enfurecido. Existem dias em que escrevo por
impulso, quando sempre disse que não o ia fazer. Mas o sempre é um erro de
vocabulário. Existem sempre aquelas excepções cliché. Como o hoje.
Quem chafurda nas redes sociais, sabe que os algoritmos
gostam de modas, de estímulos seguidos por milhares, de tretas, de assuntos que
se tornam virais e que acima de tudo sejam possíveis de comercializar. Sabem
aquela vinheta do Batman a bater no Robin, sendo que o Batman quer que o Robin
pare de fazer alguma coisa (o conteúdo depende de quem o partilha)? gGstava de
ter uma dessas vinhetas para acabar com a conversa das "Mulheres Reais". Mas que
raio são as mulheres reais? OK, as mulheres reais são mulheres de carne e osso,
sendo que o oposto serão as mulheres virtuais, desenhos, hologramas, 3D
computorizados, criadas por programação informática. Será?
Quando começaram a aparecer campanhas um bocadinho fora da
norma, do que até à data se fazia no mundo publicitário, confesso que achei que
era um passo em frente. O mundo permitia que todas as mulheres, altas, baixas,
gordas, magras (etc, etc, etc) pudessem ocupar o mesmo lugar, ter a mesma
mediatização, ter a mesma atenção independentemente do corpo que carregavam. Surgia
a possibilidade de todas nós apareceremos lado a lado, em igualdade, sem julgamentos. A selecção de top-models
abria-se a novas possibilidades, abrangendo assim mais mulheres, diferentes mulheres, diferentes corpos. Pelo menos,
interpretei eu dessa forma. Mas como tudo (ou quase tudo) que surge no mundo
virtual, o conceito "Mulheres Reais" começou a ganhar contornos que me assustam.
Se por um lado no início, a ideia era de igualdade, agora sinto que estas
balelas só vêm criar mais pressão social e mais estigmas. Passou a existir moda
para mulheres reais, fóruns para mulheres reais, artigos “noticiosos” para
mulheres reais. E por essa internet fora, todo um novo despejar de comentários,
comparações que aumentam a tensão feminina, apareceu, ocupou um lugar. Deixou de haver espaço para "o meu corpo é assim" para...."epa deixa-me ir à internet justificar porque tenho um corpo assim". Parece que cada mulher tem que
justificar/defender o seu corpo. Ahhh, tenho dois saquinhos de chá no lugar das
maminhas, mas não tenho desculpa porque fui mãe e bla bla bla….e as mulheres que
têm seios descaídos sem serem mães? Já não são mulheres reais, são apenas umas
deleixadas? E as mulheres que são mães e conseguem mesmo assim manter um corpo
sem saquinhos ao dlim-dão? Terão direito a existir ou teremos que nos lançar
numa cruzada contra elas?
Basta olharmos para o Instagram. Agora pegou moda a foto estilo programa Alta Definição: Olhem para mim, esta sou em sem maquilhagem, desalinhada, casa por arrumar, estou como sou, uma mulher real. Afinal de contas quem são as mulheres reais e as mulheres irreais?
Lembro-me de falar disto com uma amiga minha. Ela é magra e
eu gorda (não há outra forma de colocar a coisa, mas também não há nenhum julgamento nesta frase, até porque a magreza dela ou a minha gordura nada têm a ver com a nossa amizade maravilhosa que se baseia noutras coisas mais importantes). Ela sentiu-se, desde o
início, ofendida com este conceito "de realidade". Tentou explicar-me que nutria uma
sensação de que as ditas campanhas das mulheres reais eram contra ela, contra
as magras. Ela contava-me: Eu sou magra, porque sou magra, não faço dietas, não
deixo de comer. Apenas sou magra. Serei menos mulher? O meu género de corpo
terá de ser banido das campanhas publicitárias? Confesso que na altura defendi
com unhas e dentes esta ideia de "Mulheres Reais". Porque na realidade durante
anos senti que as minhas banhocas eram omitidas do espaço público, que eram
vistas como algo assim para o repelente, que nunca poderiam servir para
inspirar outras mulheres. Agradeço o aparecimento deste conceito e a forma como
quebrou uma série de barreiras e sensibilizou as mulheres para respeitarem os
seus corpos. Mas hoje tenho de concordar com a minha amiga. Já chega de tanta pressão, desta ideia imposta que algumas
mulheres são mais reais que outras, desta ideia de que temos sempre de nos andar a comparar, desta ideia de que temos de juntar tudo no mesmo saco.
Cada corpo conta uma história, cada corpo
encerra as suas limitações e as suas belezas. Cada corpo é real, seja de
mulher, seja de homem. Portanto, podemos parar de impregnar as redes sociais
com tanta pressão social?
Bolo Clássico de Cereja
Ingredientes
150g de manteiga amolecida
150g de açúcar
3 ovos
175g de farinha autolevedante
200g de cerejas descaroçadas
120g de açúcar em pó (especial glacê)
5ml de sumo de limão
Modo de preparação
Pré-aquecemos o forno a 160ºC e untamos uma forma de tarte. Numa taça, juntamos a manteiga e o açúcar. Com uma batedeira eléctrica, batemos bem até obtermos uma mistura leve e fofa. Sem parar de mexer, adicionamos os ovos, um a um. Entre cada ovo, juntamos também uma colher de sopa de farinha. Adicionamos a restante farinha. Juntamos as cerejas à massa e misturamos com cuidado com uma colher de metal. Levamos ao forno entre 45 e 50 minutos. Deixamos arrefecer um pouco antes de retirarmos da forma. Numa taça juntamos o açúcar em pó com o sumo de limão. Misturamos bem. Decoramos o bolo a gosto após este ter arrefecido por completo.
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