Ideias soltas sobre casamentos

O noivado chegou entre a degustação de um pedaço de pizza e um nervoso miudinho incómodo que, sem eu perceber, se instalara à mesa. Ao pedido inesperado, sem pompa protocolar, mas com um romantismo difícil de explicar por palavras, juntou-se alguma hesitação. E em vez de respostas, disparatei uma serie de perguntas ansiosas, que rapidamente se converteram num firme sim. Sem pressas de conhecer o Registo Civil, outros capítulos se foram escrevendo, sem tradicionalismos. E nem imaginam as coisas bonitas que ouvimos: 1 - Um noivado só pode durar no máximos dos máximos dois anos, senão depois perde a validade. (Acho que me esqueci de ver a embalagem e a indicação de consumir até quando); 2 - Tínhamos de casar rapidamente para podermos ter filhos (Eu acho que toda a gente sabe como se faz filhos, mas se calhar é melhor não aprofundar o assunto); 3 – Ainda bem que tínhamos pensado neste novo passo, porque já não íamos para novos (Há uma idade estipulada para as pessoas se casarem?), Entre outras frases inspiradas. Eu sei que às vezes as pessoas só querem fazer conversa. Mas falar do tempo, acreditem, é mais do que suficiente.

E como tudo na vida tem uma altura certa, ou que nos parece ser acertada, o casamento chegou cinco meses antes da data. Espera aí minha menina! Um casamento não deve ser organizado com o mínimo de um ano de antecedência? Pelo menos é o que as revistas da especializada dizem. Mas as revistas dizem muita coisa. Coisas que não encaixam na vontade de duas pessoas que se amam e decidem que é nessa aventura que querem embarcar, com o seu estilo próprio. De facto, ao longo de cinco meses fomos bombardeados por vocábulos ilusórios, que se lhes tivessemos dado atenção, provavelmente não teríamos gozado em pleno esse dia tão especial. Já passaram dois meses desde o Dia Mágico. Os ânimos já sossegaram e os nervos à flor da pele desapareceram. Achei que era a altura ideal de partilhar algumas ideias soltas sobre os tais protocolos e sobre o que acontece na prática da organização de um casamento. Atenção, nada do que vem a seguir, são verdades. Apenas sensações que me acompanharam, a mim e à cara metade, durante esta fase.







Organizar um casamento em cima da data é algo que as revistas não aconselham. Principalmente, por causa dos fornecedores que muitas vezes não estão disponíveis ou com disposição de planear um casamento em pouco tempo. Pensem nisso como um desafio, para deitarem mãos à obra e criarem um casamento DIY à vossa medida. Foi o que aconteceu cá em casa. Falámos com a família que sabíamos que tinha jeito para a coisa e em cinco meses montámos o cenário que desejávamos: rústico e campestre. O pai construiu a pérgula e a mesa que serviram de “altar”, mais o photobooth e todos os móveis em madeira que necessitávamos. A mãe desenvolveu uns licores fantásticos para oferecer aos convidados homens. Eu e a cara metade desenvolvemos todo o design dos materiais, prendas e afins. Se ficou bonito? Para nós ficou perfeito, e na realidade é isso que conta, que as coisas fiquem ao jeito do que sonhámos ou idealizámos. Se foi fácil? Não vou mentir. Foi bastante trabalhoso. Três meses antes do casamento todos os fins-de-semana foram passados a trabalhar para o grande dia. Mas o que fica de importante são as histórias, as birras, o choro, os risos e as imensas sensações tão genuínas, como a cumplicidade e respeito que fui aprofundando com o meu marido.



Claro que nem toda a gente vê com bons olhos o Do It Yourself, nesse caso pesquisem bem, pois de certeza, por mais difícil que seja, vão encontrar um fornecedor à vossa medida que esteja disponível para sair da zona de conforto e planear um casamento express. Na realidade, até podem encontrar o fornecedor que estava desejoso de ser desafiado a criar algo diferente. Apesar de toda a vertente DIY, sempre soube que queria algo campestre/rústico mas com um toque refinado e que esse toque teria de ser dado por alguém em quem confiaria. E essa pessoa teria de ser a Guida Design Eventos. Ela esteve disposta a organizar o design floral em três tempos. Portanto, nunca desesperem, haverá sempre tempo para organizarem a vossa aventura.





Uma das coisas com que fomos surpreendidos durante a organização do casamento prende-se com os temas e cores do mesmo. Segundo a etiqueta, um casamento deve ter apenas um tema e três cores como base da decoração. Ohhh, pois. É aqui que pergunto: Querem lembrar o vosso dia especial porque cumpriram a etiqueta ou porque seguiram o vosso coração? E não pode o vosso coração ser um arco-íris apaixonado por diferentes temas. Caminhos Pedestres, jogos tradicionais e vida no campo, foram os temas do casamento, aplicados a convites, lembranças, design gráfico e floral. Além disso, usámos mais de três cores, tendo como base uns arranjos florais super coloridos, super alegres. Acho que a regra neste capítulo, deve ser seguirem o que gostam. Acreditem que isso vai fazer a diferença. Se estiverem à vontade com os temas, cores e actividades que escolhem para a vossa cerimónia, podem ter a certeza que esse à-vontade será transmitido aos convidados. Cá em casa decidimos que fizesse chuva ou sol, a cerimónia seria ao ar livre num bosque. Choveu e tivemos os melhores convidados do mundo, que mesmo de chapéu de chuva na mão foram os melhores convidados de sempre. Além disso, entraram em todas as brincadeiras e deliciaram-se com o jogo da malha, o jogo da moeda, o jogo do saltar ao saco.


Outra das regras que desconhecia em relação à organização dos casamentos prende-se com o horário das cerimónias. Li numa revista que as cerimónias devem começar quatro horas antes do por do sol, para que a noiva tenha o dia para se preparar e porque a luz da tarde funciona melhor nas fotografias. Ri-me bastante com este artigo. Pois parece-me bastante redutor definir o horário de um dia apenas tendo em conta a luz que melhor funciona nas fotografias. E já nem falo na questão da noiva se preparar. Hoje em dia há vários serviços de cabeleireiro e maquilhagem que, com profissionalismo, muita técnica e resultados fantásticos, tratam da noiva em três tempos. Como alguns familiares comentaram, tivemos um casamento à “antiga” no que toca ao horário. Celebração às 11h30, almoço a terminar às três, sobremesas, muita dança, muitos jogos tradicionais, caminhada pela quinta com direito a conhecer os animais todos, ceia e às  22h00 já os mais velhos pediam cama e os mais novos também. Sempre desejei uma festa familiar, e ao escolhermos este alinhamento foi em nós e na idade dos familiares que nos focámos. E foi perfeito! As pessoas aproveitarem em pleno todas as actividades que tínhamos pensado. Julgo, que se me tivesse centrado na luz que combinaria com o meu rosto ao final do dia, hoje estaria muito arrependida.







Claro que uma das decisões mais importantes no que toca ao dia do casamento é sem dúvida se preferem uma cerimónia religiosa ou civil. Obviamente, que essa escolha depende de cada casal e não há muito que as revistas falem sobre isto, no sentido de defender uma ou outra situação. No meu caso também só posso falar sobre a nossa escolha que recaiu sob uma cerimónia civil. A maior parte dos Registos Civis não estão preparados para  celebrar os casamentos. Burocraticamente falando, no que toca a pagamento da cerimónia e leitura da legislação afecta ao ato de matrimonio são prós, ninguém pode dizer o contrário. Mas falta-lhes o resto. O romantismo, a organização, um discurso coerente, a abertura para organizar com os noivos a cerimónia. No nosso caso, tivemos de nos reunir com o Registo Civil mais de três vezes, depois de os funcionários tentarem empurrar o serviço de uns para os outros. Finalmente coube-nos em sorte uma funcionária, sem pingo de sensibilidade ou romantismo que se preocupou mais com as botas que molhou ou com as unhas que receberam humidade, que olhou de soslaio para o coro, que irritou profundamente os convidados e que não nos permitiu a troca de votos. Conselho. Se optarem por uma cerimónia civil, tenham um mestre de cerimónia vosso, que  conheçam, que seja vosso amigo, que possa conduzir a cerimónia com o brilho e discurso que mais vos aprazer. Acreditem, a vossa cerimónia terá um toque mais pessoal.


Mas acima de tudo, se estão a pensar em casar, lembrem-se, o mais importante é namorarem muito e apreciarem em conjunto cada decisão. As revistas afirmam que o Dia do Casamento é o dia especial da mulher e que tudo tem de encaixar no que ela idealizou. Nada mais errado. Um casamento é construído, nas suas diferentes vertentes, a dois. Portanto, há que respeitar as opiniões, desejos e sonhos da cara metade. Porque, acreditem, só na comunicação plena se pode construir uma bela história de vida.

Fotografias cedidas gentilmente por Anita Afonso, Francisco Ferreira - Photography e José Manuel.

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