Os 28 anos chegaram de mansinho quase sem dar por eles. As
rotinas atribuladas, as exigências, as provações, as tarefas meticulosas dos
últimos anos deixaram-me parada no tempo, no que toca à percepção da idade e de
como ela avança depressa. Nunca desejei crescer depressa. Na verdade, nunca
vivi aqueles dramas de falsear a minha idade na adolescência porque queria
parecer mais velha. Não nunca senti essa necessidade. Sempre achei que nessa
fase, a idade avançava ao ritmo normal, ao ritmo expectável. Agora, confesso,
sinto que o tempo seja ele de natureza for, corre, voa, modificando tudo e
todos. Mas também isso deve ser o normal.
Ontem, dia do meu aniversário, entre mensagens de
parabenização e miminhos caseiros, a minha mente retrocedeu à época universitária,
àquele momento em que tudo é possível, em que aquele era o primeiro dia do
resto das nossas vidas. Confesso que senti alguma nostalgia, as recordar
pessoas que me foram muito queridas e com quem partilhei o meu maior tesouro:
os sonhos que naquela altura comandavam a minha vida, os meus passos, as minhas
aspirações. Sonhos esses que ficaram para trás, que se esbateram, diluíram,
modificaram ou perderam-se.
Não pensem que celebrem 28 anos em modo depressivo. Julgo
ser normal e aceitável que algumas datas nos obriguem a reflexões mais
profundas e a alguns exercícios de introspecção, como os aniversários.
Desde que terminei a universidade, até esta data em que me
encontro desempregada, à procura de um novo rumo, muita coisa ficou para trás,
é certo, mas ganhei muito. Se os meus avós acedessem à net e lessem este meu
post, diriam “Para frente é que é caminho”. Eu cresci a ouvir esta frase e
defendo-a com unhas e dentes. Para a frente é que é caminho. Apesar de alguns
sonhos não se concretizarem de todo, as linhas tortas trazem sempre muitas
aventuras, muitos docinhos e descobertas inimagináveis.
Nos últimos anos, deixei para trás o sonho de ser jornalista
(não quer dizer que não o volte a ser, mas como eu o imaginava não será de
certeza), deixei para trás o sonho de uma vida devotada à carreira (não combina
muito comigo), deixei para trás um blog repleto de introspecções, textos
jornalísticos e coisas afins, deixei para trás a possibilidade de dar a volta
ao mundo (há sítios muito frios neste mundo). Mas ganhei uma irmã, um príncipe
encantado, uma família unida (como sempre esteve) e um blog repleto de
partilhas de inspirações, incursões mais
ou menos felizes no mundo da gastronomia, descobertas de jardinagem e de horticultura.
Talvez isto soe a conversa de circunstância. Fiz anos ontem,
portanto permitam-me este discurso alongado.
Para a frente é que é caminho. E é tão bom caminhar ao lado
de pessoas maravilhosas. Sou uma felizarda. Até posso olhar para os problemas
todos, mas só de pensar nas pessoas fantásticas que já conheci e que me deram
tanto das suas histórias, das suas vivências e até dos seus conhecimentos.
Epa…desculpem-me mas isto está semi-ganho. Sim…semi…porque eu quero mais. Quero
livrar-me deste rotulo de desempregada, quero novas descobertas, quero aventuras (com risco calculado entenda-se) quero ter a
capacidade de produzir alguns dos meus alimentos e tornar me uma jovem
agricultora, quero aprender e aprender a ser uma top chef de trazer por casa, quero mais histórias, quero mais vivências, quero continuar com sorrisos estúpidos cada vez que vir o nascer do sol, quero sorrisos ainda mais estúpidos estampados no rosto a cada por do sol, quero continuar apaixonada, quero continuar a petar com a minha irmã (é para isso que as irmãs mais velhas servem, certo), quero saber ter sempre a humildade de agradecer a todas as pessoas
que me tornam numa rica pessoa.
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