Restaurante Jasmim



A gravação roufenha do campanário da capela da aldeia de Rebordinho assinala as 13h00 assim que estacionamos o carro. Nem vivalma de pessoas, ou não fosse hora sagrada de almoço. Para além do badalar religioso, sobressai o barulho da água a correr do fontanário público para o tanque público. Pelo verdete e ervas que nele crescem, provavelmente já ninguém na aldeia lhe reconhece necessidade de existência. Caminhamos em direcção ao Largo da Capela, a imaginar como será o restaurante que eu há tanto anseio conhecer, e do qual ele já me ouviu tantas vezes falar. Vamos de mãos entrelaçadas, embalados pela tontice lamechas de seis meses de casamento. Deixamo-nos ir no ritmo lento da aldeia. Assim que viramos a esquina, somos recebidos por um edifício de aspecto típico, onde o granito tão presente na região se mostra de cara lavada e convida a entrar. Apesar de escondido na pacatez dos arredores da cidade de Viseu, já andou nas bocas de meio mundo, em críticas positivas nos mais diversos meios de comunicação. Portanto, não é difícil dar conta deste espaço. À entrada um pequeno rafeiro encolhe a cauda ao mesmo tempo que nos desafia a meia dúzia de festas. Sabe que não pode entrar. Provavelmente, sabe que só poderá sentir os sabores apetecíveis do Restaurante Jasmim da soleira da porta, através do seu super olfacto. Rapidamente, somos recebidos com um sorriso sincero e encaminhados para o andar das refeições. Apesar da estrutura antiga da casa, a pedra renovada é banhada por uma quantidade generosa de luz solar, uma luz bonita que acolhe confortavelmente quem chega. Como ainda não queremos deixar o Outono entrar em força nas nossas vidas, escolhemos uma mesa junto a uma grande janela virada para um sol enganador.


Ele passa directamente para a ementa, enquanto eu delicio-me a apreciar os pequenos detalhes da decoração. Os móveis antigos, recuperados, com brio e simplicidade, conjugam com mesas estilo rectilíneo que acolhem alguns apontamentos florais, simples a lembrar bouquets rústicos. Assim que abro a ementa deixo-me levar pelos nomes curiosos dos pratos e pela diversidade entre sugestões modernas e as sugestões tradicionais mas revisitadas pelo chef do restaurante. Sentimos que temos de experimentar o máximo de iguarias, mas rapidamente somos advertidos simpaticamente pela funcionária de mesa para o facto das entradas serem para duas pessoas. Optamos pel' A Serrana (Salada de agrião com queijo fresco, coulis de pimento e noz), que nos encantou, principalmente pela frescura do coulis de pimento. Para prato principal deixámo-nos envolver pel’ Os escondinhos (Secretos) e por Como uma brisa do mar (Risotto de camarão com filamentos de açafrão e lima). Sabores bem conseguidos, batatas dos Secretos de comer e chorar por mais e cada garfada do Risotto obrigava-me a fechar os olhos e a saborear com calma. (Desejei apenas que o Risotto estivesse mais quente, naquele ponto de temperatura que conforta o estômago e a alma.) Foi fácil fazer fluir a conversa entre garfadas de texturas e sabores perfeitos, num ambiente harmonioso. Quase duas horas depois apercebemo-nos que o tempo que parou à nossa volta, continuou a fluir no universo. Pedimos os docinhos para finalizar a refeição. A escolha foi bem difícil, tal é o nosso grau de gulosice. Acabámos a Suspirar (Creme de frutos vermelhos merengado) e com a Chávena Entornada (Mousse de lima com crumble de aveia).




Regressámos à rua. Do rafeiro, nem sinal. Apenas algumas pessoas idosas a usar a paragem de autocarro como zona de convívio e refúgio ao sol quente. Voltámos a entrelaçar as mãos completamente revigorados, com a sensação de termos sido bem recebidos, com um sentimento de apego por um Restaurante que não se fica pelas críticas que interessam, opta por bem tratar todos os clientes e por surpreende-los com qualidade gastronómica.



2 comentários

Daniela Soares disse...

Tem tudo tão bom aspecto, e essa apresentação da chávena "virada" está um máximo.:p

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Ana disse...

Daniela, adorei conhecer este restaurante. E sim a chávena entornada foi mesmo uma bela surpresa. Vale a pena passar pelo Jasmim.