Bacalhau com Broa à Moda do Reservatório de Sensações


Bacalhau sempre foi um dos ingredientes favoritos em casa dos meus avós maternos. A minha avó não comia carne. Ou melhor, só comia a carne que produzia em casa. Desde pequena que fora habituada a criar porcos, galinhas, coelhos, patos. Tudo à moda antiga, ao ar livre, com direito a comida boa e atenção personalizada. Ela dizia que só aquela carne tinha um bom sabor, só naquela carne podia confiar. “Eu sei como estes animais foram criados. Sei que não levaram produtos esquisitos”. Apesar de ser mulher do campo, que exigia muitos legumes nos seus pratos, os seus apetites iam sempre buscar inspiração ao mar e ao rio. Por isso, ela preferia peixe. Confecionado de todas as formas e feitios.

Lembro-me do nosso lanche favorito. Punhetas de bacalhau e uma cevada quente (se estivéssemos no Inverno) e uma limonada refrescante (se estivéssemos no Verão). Sei que há nomes mais fancy para esta iguaria, mas era assim que cá em casa dizíamos. Eu chegava da escola, ela pegava numa posta de bacalhau demolhada e desfiava-a na hora. Juntava muita cebola, muito azeite (e eu muito vinagre caseiro). Aquilo era o céu. Como é que um manjar tão simples, podia ser tão bom? Caramba, tenho saudades desses tempos, daqueles momentos, daquele calor familiar.


A gastronomia é muito mais que a combinação de ingredientes ou nutrientes para sobrevivermos. O que colocamos na mesa, como o fazemos e com quem revelam os nossos valores, sonhos, memórias e paixões. Tal como José Tolentino Mendonça refere “a vida dos indivíduos ou dos agregados humanos encontrou, desde sempre, no espaço da refeição um momento privilegiado da sua construção. À volta da mesa celebram-se os eventos fundadores, os nascimentos, os ritos de passagem, os triunfos, mas também o luto, as crises ou a prova. A mesa torna visível e edifica a intimidade familiar.” E eu não podia estar mais de acordo com esta citação.

Agradeço muito aos meus avós, todos eles, as memórias que sempre me proporcionaram à mesa, com as iguarias que “obrigavam” a provar, abrindo assim horizontes para um paladar simples, mas ansioso por novas histórias e aventuras.

 



A receita que hoje vos trago é acima de tudo uma maneira de homenagear os lanches da minha infância e surge de uma parceria com a BeiraNova. Uma empresa da região de Viseu, de onde sou natural, que se dedica ao processamento de pescado congelado. Isto não é publicidade. A empresa teve a amabilidade de me oferecer alguns produtos para eu experimentar, nomeadamente o bacalhau desfiado, entre outros que ainda vão aparecer aqui no blogue. Produtos de elevada qualidade e que são pescados tendo em conta preocupações ambientais e de sustentabilidade. 

Fico muito contente quando as empresas da região onde vivo me contactam. É sinal de que estão atentas ao meu trabalho no Reservatório de Sensações, mas acima de tudo, fico contente porque me dão a oportunidade de contribuir para a sua visibilidade. Vivemos tempos estranhos e tenho todo o gosto em colaborar com aqueles que me são próximos. Principalmente quando resultam em receitas tão deliciosas.

Espero que gostem deste nada tradicional Bacalhau com Broa.



Bacalhau com Broa à Moda do Reservatório de Sensações

Tempo de preparação: 50 min. aprox.
Dificuldade: 
Fácil
Quantidades: 
para duas pessoas

Ingredientes:

  • 500g de bacalhau desfiado BeiraNova
  • 200g de batatas cortadas às rodelas (muito finas)
  • Azeite
  • 1 cebola doce inteira
  • 2 colher de sobremesa de alho em pó
  • 1/2 colher de café de pimenta da Jamaica
  • 1/2 colher de café de pimenta preta
  • 1/2 colher de café de pimenta branca
  • 50g de bacon picado
  • 1 broa pequena
  • 1 malagueta
  • 75g de cogumelos champingnon picadinhos
  • 50g de queijo pecorino 

Modo de preparação:

  • Num tacho deitamos um fio de azeite, 1 colher do alho em pó, as pimentas e a cebola picada.Deixamos refogar um pouco, até a cebola amolecer.
  • Juntamos o bacon picado finamente. Deixamos refogar um pouco mais. Como usamos o bacon, não precisamos de deitar sal.
  • Adicionamos o bacalhau desfiado em farrapos. Cozinhamos durante 10 minutos. Reservamos.
  • Fritamos as batatas até as amolecer e retiramos do óleo assim que começarem a alourar.
  • Escorremos as batatas em papel de cozinha. Reservamos
  • Desfazemos a broa em pequenos pedaços. Reservamos.
  • Numa frigideira anti-aderente, colocamos um fio de azeite e deixamos aquecer bem.
  • Juntamos os cogumelos bem picadinhos e salteamos até perderem a humidade natural.
  • Adicionamos a broa e a malagueta picada finamente.
  • Deixamos a broa fritar, juntamente com os cogumelos, durante cerca de três a quatro minutos.
  • Numa assadeira de ir ao forno, dispomos os diferentes ingredientes pela seguinte ordem: 1 camada de bacalhau, 1 camada de batata frita e 1 camada de broa.
  • Colocamos o queijo por cima da broa e levamos ao forno, previamente aquecido a 200ºC, a gratinar durante cerca de cinco minutos.
  • Acompanhamos com um bom vinho branco da Região do Dão.

 


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