Enquanto os meus colegas de turma dormiam ao sabor dos solavancos, enlatados numa pequena camioneta dos Bombeiros Voluntários de Viseu, eu deleitava-me com os típicos postais alentejanos. As planícies douradas, os sobreiros retorcidos, as rectas a perder de vista, as aldeias isoladas, as pessoas sentadas à entrada dos cafés. Foram as aldeias caiadas de branco e listas coloridas que me roubaram o coração. Principalmente Monsaraz.
Logo ali soube que aquele era um amor para a vida toda e que iria condicionar algumas das escolhas da minha vida.
Há 20 anos (data tão redonda que até custa dizer), Monsaraz era diferente. A banhar as pedras xistosas e as paredes pálidas, existiam apenas infinitas planícies cor de ouro. No ar pairava a promessa megalómana de água.
Há 20 anos, o Alqueva era ainda uma miragem em construção. Um emaranhado de betão e camiões a percorrer a paisagem. Tive a sorte de visitar os bastidores das construções. Lembro-me da minha incredulidade tipicamente teenager. Lembro-me também de todo o discurso "marketencioso" que nos foi vendido para acreditarmos naquele projecto.
Quando a água começou finalmente a chegar à região, já eu estava longe. Portanto, ao longo dos anos sempre alimentei a vontade de regressar a Monsaraz (a minha paixão), experimentar as diferenças na paisagem, conhecer uma nova vida alentejana.
Umas férias no Algarve, pareceu-me a desculpa indicada para revisitar Monsaraz apelidada agora de Aldeia Ribeirinha.
Há 20 anos (data tão redonda que até custa dizer), Monsaraz era diferente. A banhar as pedras xistosas e as paredes pálidas, existiam apenas infinitas planícies cor de ouro. No ar pairava a promessa megalómana de água.
Há 20 anos, o Alqueva era ainda uma miragem em construção. Um emaranhado de betão e camiões a percorrer a paisagem. Tive a sorte de visitar os bastidores das construções. Lembro-me da minha incredulidade tipicamente teenager. Lembro-me também de todo o discurso "marketencioso" que nos foi vendido para acreditarmos naquele projecto.
Quando a água começou finalmente a chegar à região, já eu estava longe. Portanto, ao longo dos anos sempre alimentei a vontade de regressar a Monsaraz (a minha paixão), experimentar as diferenças na paisagem, conhecer uma nova vida alentejana.
Depois de cinco horas de uma viagem madrugadora, embala por 30 graus bem extenuantes, estacionei o carro e o corpo, à entrada da Praia Fluvial de Monsaraz. Areia branca a tocar na poeira avermelhada dos campos circundantes, ovelhas nas margens a mirar os barcos baloiçantes, e Monsaraz sobranceira, pousada no monte a abençoar o repasto turístico.
Talvez tenha sido o mergulho com mais sentido do meu Verão, aquele que respondeu melhor às minhas expectativas. Nadei sem tempo, como se o lago fosse só meu, apesar das centenas de pessoas que também usufruíam do espaço. Deixei o corpo flutuar na luz dourada do por do sol alentejano e só abandonei aquele sonho refrescante na companhia dos rebanhos que também regressavam a casa.
Adormeci na Muralha do Frade, um alojamento tipicamente alentejano, na aldeia de Motrinos, a cinco quilómetros de Monsaraz.
Adormeci em casa, porque aquela podia ser efectivamente a minha casa. Reconstruída com simplicidade, uma espécie de loft, com uma cozinha antiga toda em mármore branco trespassado por ténues linhas rosas.
Adormeci depois de caminhar no escuro e no sossego absoluto do cantar das cigarras, tendo apenas como companhia um céu nocturno brilhante. Mas tão brilhante, que se percebe porque Monsaraz integra a Reserva Dark Sky. A primeira a receber a Certificação Starlight Tourism Destination, atribuída pela UNESCO e pela Organização Mundial de Turismo.
Com o sol já a rondar trinta graus, deixei Motrinos e subi o monte para abraçar com nostalgia a vila medieval que ganhou nova vida com a chegada da água. Sentei-me ainda antes de perfurar as muralhas e, simplesmente, contemplei. Ali estava eu, perante um dos maiores lagos da Europa. Há 20 anos, não havia ilhotas no Alentejo, não havia pedaços de terra amarela a surgir da água, não haviam barcos, não havia tanta vida.
Cirandei pela aldeia, entre o Castelo e a Igreja gótica, entre as casas tingidas de branco e as paredes xistosas, entre pronúncias estrangeiras e falares portugueses. Sem rumo, sem tempo contado.
Só a barriga a dar horas me acordou daquele sonho, para me orientar até aquela que considero a loja mais bonita da aldeia, a Casa Tial. Com a simpatia do sorriso e o discurso forasteiro mas amistoso, provámos pequenas delícias, como o Reguengo, um doce típico, que tinha tudo para não entrar na minha lista de favoritos. Talvez tenha sido a paixão por aquele sitio a falar mais alto, mas aquele bolinho vai assentar arraiais para sempre nas minhas ancas e no meu coração.
Voltar a Monsaraz 20 anos depois, foi uma surpresa. Permitiu-me comprovar que, apesar da água, apesar das diferenças no cenário paisagístico, apesar dos banhos de turistas, apesar das estradas longas sem ninguém a quem pedir informações, apesar da desertificação, metade do meu coração continua a pertencer ao Alentejo.
Onde Ficar: Casa Muralha do Frade, na aldeia de Motrinos. Aldeia calma, perto de Monsaraz, de Reguengos de Monsaraz e de São Pedro do Corval.
A não perder: Um mergulho na Praia Fluvial de Monsaraz (se for tempo disso), visita ao Observatório Dark Sky e claro degustar um Reguengo (e não só) na Casa Tial.
Adormeci na Muralha do Frade, um alojamento tipicamente alentejano, na aldeia de Motrinos, a cinco quilómetros de Monsaraz.
Adormeci em casa, porque aquela podia ser efectivamente a minha casa. Reconstruída com simplicidade, uma espécie de loft, com uma cozinha antiga toda em mármore branco trespassado por ténues linhas rosas.
Adormeci depois de caminhar no escuro e no sossego absoluto do cantar das cigarras, tendo apenas como companhia um céu nocturno brilhante. Mas tão brilhante, que se percebe porque Monsaraz integra a Reserva Dark Sky. A primeira a receber a Certificação Starlight Tourism Destination, atribuída pela UNESCO e pela Organização Mundial de Turismo.
Com o sol já a rondar trinta graus, deixei Motrinos e subi o monte para abraçar com nostalgia a vila medieval que ganhou nova vida com a chegada da água. Sentei-me ainda antes de perfurar as muralhas e, simplesmente, contemplei. Ali estava eu, perante um dos maiores lagos da Europa. Há 20 anos, não havia ilhotas no Alentejo, não havia pedaços de terra amarela a surgir da água, não haviam barcos, não havia tanta vida.
Cirandei pela aldeia, entre o Castelo e a Igreja gótica, entre as casas tingidas de branco e as paredes xistosas, entre pronúncias estrangeiras e falares portugueses. Sem rumo, sem tempo contado.
Só a barriga a dar horas me acordou daquele sonho, para me orientar até aquela que considero a loja mais bonita da aldeia, a Casa Tial. Com a simpatia do sorriso e o discurso forasteiro mas amistoso, provámos pequenas delícias, como o Reguengo, um doce típico, que tinha tudo para não entrar na minha lista de favoritos. Talvez tenha sido a paixão por aquele sitio a falar mais alto, mas aquele bolinho vai assentar arraiais para sempre nas minhas ancas e no meu coração.
Voltar a Monsaraz 20 anos depois, foi uma surpresa. Permitiu-me comprovar que, apesar da água, apesar das diferenças no cenário paisagístico, apesar dos banhos de turistas, apesar das estradas longas sem ninguém a quem pedir informações, apesar da desertificação, metade do meu coração continua a pertencer ao Alentejo.
Onde Ficar: Casa Muralha do Frade, na aldeia de Motrinos. Aldeia calma, perto de Monsaraz, de Reguengos de Monsaraz e de São Pedro do Corval.
A não perder: Um mergulho na Praia Fluvial de Monsaraz (se for tempo disso), visita ao Observatório Dark Sky e claro degustar um Reguengo (e não só) na Casa Tial.
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