O paraíso Low Cost às portas de Portugal - Ilhas Cíes parte II




Acordar nas ilhas Cies é um verdadeiro privilégio e uma experiência única. Principalmente, se acordarmos cedo, quando as tendas do parque de campismo continuam adormecidas e o silêncio impera. (Como já tinha referido no posts anterior sobre este paraíso terreno, o único alojamento existente nas ilhas é o Parque de Campismo.) O silêncio impera, o sol começa a rasgar a neblina, desde Vigo até entrar pelas rias baixas e beijar o Atlântico. Paira no ar uma sensação de quietude misteriosa, apenas interrompido pelo grasnar incessante e rotineiro das centenas de gaivotas, reais donas de um sítio ainda tão virgem, tão natural. Quase que dá para sentir a história de séculos que permanece escrita em cada duna, em cada pedra, em cada árvore. Já vos tinha falado da adoração dos Romanos por este sítio, mas a verdade é que também os piratas se deixaram encantar pelas Cíes. Durante alguns anos esconderam-se no nevoeiro para pilhar os barcos que ousavam navegar nas rias baixas galegas ou para roubar os monges que habitavam as ilhas.

Na primeira manha em que acordei aqui, facilmente consegui transportar a minha imaginação para este cenário de mistério, de aventura, de mundo novo para explorar. Talvez o facto de ter dormido numa tenda, desprovida de comodidades rotineiras, tenha ajudado a sentir de perto a natureza e a deixar voar a fantasia. Já não fazia campismo há anos. Nem eu sabia as saudades que tinha. Há toda uma simplicidade na logística de acampar, em desligar do conforto quotidiano. Tomar o pequeno-almoço na rua, apenas com um bikini e uma túnica vestidos, uns chinelos nos pés, uma paisagem deslumbrante e uma despreocupação total é a minha definição de verdadeiro luxo.




E não pensem que permanecer mais do que um dia nas Cíes pode ser aborrecido. Este paraíso não fica apenas confinado a uma vista bonita. Se gostam de trekking, snorkeling e banhos, então este é o sítio certo.

Se a opção for nadar e nadar e nadar e apanhar banhos de sol sem qualquer preocupação, podem escolher uma das seis praias ou experimenta-las todas. Eu só tive a oportunidade de usufruir de três destes sítios encantadores.

No post anterior já falei da Praia de Rodas, considerada pelo jornal The Guardian como uma das mais bonitas do mundo. É uma zona bonita para ir a banhos, se bem que é a praia que geralmente se encontra mais cheia, uma vez que fica próxima do cais onde atracam os barcos. Contudo, o areal de mais de um quilómetro de dimensão permite usufruir desta praia em sossego. Mais uma vez ressalvo, durante as férias não senti nenhum sintoma de multidão nesta praia. Foi super agradável passar parte das tardes neste areal e ver o por de sol a varrer a praia, deixando para trás o continente.








Mais a norte fica a Praia de Figueiras. Onde passei uma manhã adorável, sendo que dentro de água estive mais de uma hora. Trata-se de uma praia pequena, discreta, escondida por algumas rochas e pelos eucaliptos da ilha. A areia é super fina, podemos desfrutar da sombra das árvores. Óptima para banhos como tive a oportunidade de comprovar. Soube tão tão bem, mergulhar nesta praia depois de uma caminhada de quatro quilómetros sob um sol de 30ºC. É classificada como Praia de Nudistas, mas é aberta a todas as pessoas, mesmo que não sejam praticantes de nudismo.

Mas foi na Praia de Nosa Señora que deixei parte do meu coração e da minha alma. Virada a sul, com vista para a Ilha de San Martiño, a água é ainda mais cristalina, protegida das nortadas. Talvez por isso, os iates e os veleiros escolham este local para ancorar durante a noite. Além disso, esta zona é também escolhida para a prática de snorkeling. Se não possuem barco privado e gostariam de passar para a Ilha de San Martiño, podem inscrever-se em aulas de kayak que começam na praia de Nosa Señora e costumam envolver travessias até à outra ilha. Eu e a família descobrimos esta praia depois de uma caminhada até ao ponto mais alto da ilha, proporcionada pela Rota do Monte do Faro. Quando olhei para baixo e descobri a imagem típica de praia do mediterrâneo, de filme europeu, de postal turístico, percebi que esta iria ser a minha praia favorita, a minha praia de sonho. Tenho a certeza que se algum dia tiver a sorte de ter um barco só meu, irei pernoitar muitas noites neste sítio.





Como as restantes praias não experimentei, confesso que não posso falar muito delas. A Praia das Margaridas e a Praia da Cantareira podem ser acedidas através da Rota do Faro da Porta. Do que avistei de longe são praias muito pequenas, com areais diminutos e repletos de rochas. Terei de lá voltar um dia para as conhecer de perto e conhecer os seus encantos. A praia de San Martiño fica na ilha isolada, à qual só se consegue aceder de barco privado ou em aulas de Kayak. 

Mas podem ou não acreditar, mais do que mergulhos e papo para o ar, eu fartei-me de caminhar nos três dias que passei nas Cíes. Nunca eu pensei poder caminhar tanto numa ilha pequena, que vive principalmente das praias paradisíacas. Portanto, não pensem que as Cíes podem ser aborrecidas.

A Rota do Monte Do Faro é o trilho mais procurado. Inicia na Praia de Rodas e conduz os caminhantes até ao Farol Situado no ponto mais alto da ilha. Estamos a falar de cerca de 7,5 quilómetros, ida e volta. Um percurso de dificuldade média, uma vez que grande parte do percurso é feito a subir, com um desnível acentuado. Cuidado com o calçado que levam. Se tencionam fazer os trilhos, usem sapatos próprios para caminhadas/trails. O piso é bastante acidentado e irregular. Na subida encontrámos algumas pessoas que mesmo com as devidas precauções acabaram por se lesionar. A paisagem ao longo do trilho é maravilhosa, há vegetação de um lado e azul cristalino do outro. Enquanto sobem, encontram-se alguns pontos de interesse como um observatório de aves e a pedra de Campá. Vale a pena fazerem o desvio da rota principal. Quando se chega lá em cima foge-nos a respiração. Primeiro porque o desgaste próprio que a rota impõe culmina nuns metros em serpentina de tirar o folego. Segundo porque a vista panorâmica que se tem sobre o Atlântico é deslumbrante.








Ainda na Ilha Sul podem também encontrar a Rota do Faro da Porta. São cerca de cinco quilómetros de caminhada, com a bela da praia da Nosa Señora lá pelo meio. Como devem calcular não trilhei este percurso até ao fim, porque me perdi de amores e abanquei na praia.

Na ilha mais a norte, temos mais duas rotas: a Rota Alto do Príncipe e a Rota de Monteagudo.

O trilho do Alto do Príncipe tem cerca de 3,5 quilómetros de ida e volta, a maior parte deles à sombra. O trono da rainha, uma rocha esculpida pela mãe natureza, com uma vista incrível para a união da Ilha de Monteagudo com a Ilha de Faro e para o Atlântico, é talvez o maior ponto de interesse.

O último trilho conduz à ponta mais a norte da ilha, ao Faro do Peito. Neste ponto podem avistar o arquipélago de Ons, o Cabo Home, o Monte Facho e a Costa da Vela. No total, esta rota tem 5,6 quilómetros de extensão, passa pela Praia de Figueiras, Praia das Margaridas e Praia da Cantareira.





Mas não pensem que as actividades se esgotam durante o dia. À noite podem continuar a apreciar as maravilhas deste paraíso. Desde janeiro de 2018, que o Parque Nacional Marítimo Terrestre das Ilhas Atlânticas é certificado como Destino Turístico Starlight. Uma classificação que surge devido à excelente qualidade que oferece aos turistas para observar as estrelas e os fenómenos astrológicos, sem grande poluição luminosa. Eu tive a sorte de permanecer nas Cíes na chuva de estrelas das Perseidas. Um espectáculo natural lindíssimo, vivido em conjunto com dezenas de pessoas, com os olhos postos no céu e exclamações de admiração em uníssono. Para quem gosta de astronomia ou quer saber mais sobre as constelações, o Parque de Campismo organiza uma visita nocturna guiada de contemplação do céu. O guia apresenta as principais constelações e os planetas, assim como partilha algumas curiosidades engraçadas. A partir desta visita já me posso perder no hemisfério norte, que encontrarei sempre o norte. E de uma coisa eu tenho a certeza, estou completamente rendida ao norte de Espanha e às suas ilhas. Que venha o Verão, porque eu vou voltar.

Nota: Obrigada ao meu pai que se lembra sempre de carregar a máquina fotográfica e me cedeu algumas fotos deste post. 







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