Dizem as “más línguas” que comecei a falar aos sete meses de
idade, durante as minhas primeiras férias de Verão enquanto recém-nascida. Quase
que cresci a acreditar nesta história, a achar que teria sido bastante precoce.
Algum efeito especial da Praia de Mira sobre a minha pessoa. Mas segundo a
minha mãe, a verdade é só uma, a Praia de Mira deixou-me tão encantada que eu
passei as férias a palrar como gente crescida. Dia e noite, dia e noite sempre
a palrar. De tal forma que os meus primos mais novos, tambem eles crianças, diziam que eu já falava.
Se foi na Praia de Mira que me iniciei na arte de socialização e na tradição
das férias de verão junto à costa do atlântico, a verdade é que só voltei a ela
anos e anos mais tarde.
Praia de Mira foi a praia de infância do meu marido. Quando
começámos a namorar, a vida foi-nos presenteando sempre com novos destinos,
novas descobertas que nos foram afastando dos lugares já conhecidos. No
entanto, em 2011 com um orçamento limitado e já quase no fim do Verão, ele
sugeriu: Porque não Mira, conheces? É óbvio que da minha passagem por Mira com
sete meses nao resultaram quaisquer memórias. Por isso, rumámos a esta praia
situada na zona centro. Desde essa altura, que a Praia de Mira é destino
obrigatório todos os anos, passou a ser o local onde nos despedimos do Verão. O
local onde damos o último mergulho (ou molhamos os pés no atlântico, depende da
agressividade do mar), onde vimos o melhor entardecer, onde mexemos as
perninhas nos pedais das Gaivotas, onde fazemos os últimos piqueniques do
Verão.
A Praia de Mira não é uma das praias mais modernas ou da
moda. Na realidade, é uma zona associada a gente humilde, a costumes simples, a
poucos exibicionismos. Mas isso não retira charme e beleza a esta praia do
distrito de Coimbra. O mar bastante ondulado estende-se por um areal de mais de
sete quilómetros. Nem sempre dá tréguas e muitas vezes nega os mergulhos aos veraneantes
ao vestir-se de bandeira vermelha. Contudo, permite longos e descansados
passeios à beira-mar. Ou convida a comprar peixe junto dos pescadores que mantém
a tradição da Arte Xávega, tão característica desta zona. Pela limpeza, pela
oferta de apoio aos banhistas, pela beleza, a Praia de Mira ostenta a Bandeira
Azul há mais de 30 anos consecutivos. Esta é uma das poucas praias do mundo que
consegue este galardão há tantos anos consecutivos.
O que mais gosto é que o charme desta zona não se limita à
praia, antes pelo contrário, estende-se em direcção oposta à zona costeira.
Estende-se ao verde e quietude da Barrinha, uma lagoa de água doce onde patos e
gaivotas socializam sempre a troco de uma migalha de pão ou da comida de algum
turista mais distraído. Guardo sempre memórias dos passeios nocturnos junto à
Barrinha ou da falha de energia cada vez que passamos horas a pedalar nas
Gaivotas. Optamos sempre por recuperar a força no restaurante Custódio que tem
as melhores espetadas de Lulas e Camarão Grelhados do mundo e arredores (não,
isto não é publicidade é mesmo amor puro a este prato tão bem confeccionado).
Por mais anos que volte perco-me sempre de amores pela Praia
de Mira. Sei que o meu Verão só fica preenchido quando volto a encher o
Reservatório pessoal de boas memórias e boas histórias que vivo entre o
Atlântico e a Barrinha.
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