Bolo de Iogurte Grego

Um dia disseram-me, depois de ter proferido um discurso público: "tu um dia vais ser alguém". O cheiro, as cores, as luzes, os rostos, o suor, os tremeliques desta memória contam com mais ou menos 16 anos. Recordo que, na ingenuidade boba de quem aos 15 anos procura caminho certo para andar e lugar de pertença, a “frase-palmadinha-nas-costas” me caiu que nem ginjas e me fez transbordar em orgulho. Um dia eu iria ser alguém. Repesco esta memória sentada nos meus 31 anos de maturidade, acabados de conquistar à mês e meio (mais coisa menos coisa). É uma distância confortável, para assumir certas verdades e afastar fantasmas. Há quinze anos atrás, a adolescente de metro e meio que secretamente tremia que nem varas verdes em cima de um palanque, já era alguém. Na realidade, se calhar era um alguém bem maior, ainda sem formatações politicamente correctas, com a cabeça independente e a coragem de usar calças de bombazina castanhas completamente démodé. 




Crescemos com esta lenga-lenga, sempre a rodar no sub-consciente. Temos de ser modelos sociais, temos de ostentar uma carreira, temos de proclamar os discursos que os outros almejam ouvir, temos de ter um plano A, B e C seguindo o que é esperado de nós, temos de ser super humanos, temos que fazer tanta coisa, que algures na vida acordamos com a sensação de que um dia podíamos ter vivido.

Tive a felicidade de, quando me encontrava na saga difícil de entrar no mercado de trabalho, voltar a encontrar a pessoa que de modo profético tinha depositado tanta fé no meu ser. Nesse encontro, descobri que a cabeça que pensava de forma independente era agora um perigo, a falta de falsidade na voz tinha passado a ser um defeito e as calças de bombazina uma clara ausência de sentido estético.
A sociedade existe que sejamos iguais, todos, na forma de agir e de pensar, na forma de entender o mundo e de o perspectivar, só assim conseguiremos ser alguém. Mas há lições importantes. Este encontro foi um deles. Para perceber em definitivo que todos somos alguém e que não são os outros que nos vão legitimar a nossa essência, cabe-nos a nós viver e defender os valores que nos definem. Aos 31 anos parece-me que vale a pena voltar a usar calças de bombazina.

 INGREDIENTES
2 chávenas de açúcar
300gr de manteiga
6 ovos
4 chávenas de farinha
2 colheres de chá de fermento
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
2 chávenas de iogurte grego natural
raspa de 1 limão

Numa rigela misturamos a manteiga com o açúcar até obtermos um creme fofo e esbranquiçado, Juntamos as gemas e voltamos a mexer bem. Adicionamos a farinha, o fermento e o bicarbonato  e misturamos. Juntamos o iogurte grego e misturamos muito bem até  encorporar. Batemos as claras em castelo e envolvmo-las na massa, na qual juntamos também a raspa de limão. Deitamos a massa numa forma previamente untada e levamos ao forno, pré-aquecido a 180ºC, durante 30 a 40 minutos. Retiramos do forno e deixamos arrefecer antes de desenformar. Para a minha festa de anos, decidi rechear o bolo com Doce de Leite da marca Bonne Maman e com cobertura de chocolate.

Cobertura de Chocolate Negro
200ml de chocolate negro com mais 70% de cacau
100ml de natas

Partimos o chocolate negro em pedaços para dentro de uma taça que possa ir a banho maria. Depois de o chocolate derreter juntamos as natas e mexemos bem até ficarem incorporadas. Deixamos arrefecer antes de usar.





1 comentário

Menina D. disse...

Corresponder a tantas expectativas faz-nos, tantas vezes e em tantas decisões, esquecer e entender o que queremos para nós. E aquela vozinha, tão nossa, que vem lá do fundinho passa tão despercebida nas nossas ansiedades que prevalece a vontade de agradar a (quase) todos... menos a nós próprios. Gostei muito do teu texto :) E a receita, uma tentação que terei de experimentar em breve :)