Estaremos a ficar irremediavelmente estúpidos?


O livro andou muito tempo perdido na biblioteca lá de casa, que é como quem diz, esteve prostrado no esquecimento de uma arrumação desordeira em que se encontram quase todos os meus livros que acompanharam a minha deslocação de Portalegre para a minha cidade mãe. Intitula-se “O Elogio do Imbecil” e só agora começo a compreender porque o comprei. É preciso ter coragem para dissecar o processo de evolução do homem, a característica que distingue os humanos dos animais, a inteligência e, principalmente, chegar à conclusão que estamos todos invariavelmente a estupidificar. Quanto mais leio, mais me apercebo que o cenário, tecido pelo autor, não é dos mais famosos ou apelativos. O jornalista Pino Aprile, através de um trabalho sério e desprovido de ideias preconcebidas chega à conclusão que “os inteligentes construíram o mundo, mas quem desfruta dele e triunfa são os imbecis”. Mas estará a inteligência em perigo? O autor defende que se por um lado a inteligência foi “o grande salto distintivo do ser humano, a característica que nos permitiu dominar o mundo e ser a espécie eleita”, por outro deixou de fazer sentido e “já não é necessária, tornou-se obsoleta como os pêlos que nos cobriam o corpo, a cauda ou o andar a quatro patas”. A teoria de Pino Aprile assenta em argumentos fundamentados e conscientemente reflectidos. Faço esta salvaguarda porque poderíamos estar perante algum pseudo iluminado a tentar vender a banha da cobra. Claro, que podemos não concordar com as ideias apresentadas, é legítimo. Contudo, é impossível passar ao lado de questões irónicas como: “Porque há tantos imbecis no mundo? Porque é que o primeiro a ser promovido é, invariavelmente, o mais idiota do escritório? Porque é que quando nos abandonam é sempre por um perfeito/a descerebrado/a? Para o jornalista, são sempre os melhores que desaparecem, porque “na selecção natural e cultural da espécie será o pior a prevalecer, se o pior for o mais útil”. Confesso que esta teoria começa a fazer sentido para mim, tendo em conta algumas das experiências quotidianas, e serve de explicação para algumas das minhas preocupações e reflexões. Uma sugestão de leitura que dará muito que pensar.

“O génio humano foi simplesmente a ponte inventada pela evolução para levar a nossa espécie à conquista das condições que viriam a assegurar-lhe a sobrevivência. A missão foi cumprida. A inteligência deixou de ser funcional, ou pelo menos, já não é necessária como no passado (…)”.


“Antes estúpidos que mortos”.

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