O tempo passa demasiadamente depressa. Agora que já passou metade do ano, apercebo-me que esta é talvez uma
das frases a que mais recorro. Talvez seja a frase que todos usamos vezes sem
conta, em diversos contextos, em diversas situações. Não gosto nada desta
frase. E com a morte da minha avó, passei a sentir ainda menos apreço por ela.
Em Abril, partilhei convosco a minha necessidade de
abrandar, de dar real significado ao conceito de slow living, de me obrigar a
perceber que não há mal em fazer pausas. Pois bem, e se eu vou disser que senti
ansiedade por quebrar a rotina?! E se vos disser que me senti como um drogado a
ressacar na ausência do ritmo acelerado em que habitualmente vivo?! E se eu vos
disser que me senti uma pessoa com menos capacidades por me ausentar do mundo real?
Durante estes últimos meses, que não foram nada fáceis por várias razões familiares e de saúde pessoal, percebi como estamos todos tão formatados na cultura do busyness. Uma cultura que se enterra dentro dos nossos corpos em formato de mil e uma tarefas, que se enraiza dentro das nossas almas na ideia de que sucesso e ocupação/stress estão intimamente ligados.
Durante estes últimos meses, que não foram nada fáceis por várias razões familiares e de saúde pessoal, percebi como estamos todos tão formatados na cultura do busyness. Uma cultura que se enterra dentro dos nossos corpos em formato de mil e uma tarefas, que se enraiza dentro das nossas almas na ideia de que sucesso e ocupação/stress estão intimamente ligados.
Atenção, esta minha reflexão centra-se apenas no campo
pessoal. Nos últimos anos, grande parte das pessoas que conheço e privo
gabam-se (eu estou neste grupo) de serem multitasking. Quantas vezes eu usei também
esse conceito como sendo uma das minhas qualidades? Vezes demais! Permiti-me a
olhar com desejo e orgulho para uma coisa, que me faz viver as tarefas uma
atrás da outra sem que estas muitas vezes tenham um significado ou uma
motivação. Apenas e só porque tinham de ser feitas. Sem questionar, sem
melhorar a minha performance, sem na realidade ser produtiva.
O que me leva a perguntar: Será que ritmo acelerado é sinónimo de produtividade?
O que me leva a perguntar: Será que ritmo acelerado é sinónimo de produtividade?
Quantas vezes deixei que comparações entre a minha
produtividade/concretização e a de outras pessoas me fizesse desistir de
sonhos? Apenas e só porque achava que outras pessoas trabalhavam mais e tinham
mais direito do que eu em concretizar sonhos. Tão errado. Todos os sonhos são
diferentes, todos os objectivos de vida são pessoais. E todos, mas todos temos
o direito de concretizar desejos e ser respeitados independentemente do tempo que
os levamos a desenvolver.
Quantas vezes me perguntaram amigos e familiares: “Tens
tempo?” Fazendo surgir em mim uma fúria, traduzida sempre em frases sarcásticas:
“Claro que tenho tempo. Afinal de contas estou nas Bahamas a coçar a micose”. Não,
nem sempre sou uma pessoa fácil ou simpática. Principalmente, quando me sinto
sobrecarregada de tarefas e mais tarefas. Mas mesmo assim, continuo a privilegiar essa forma de vida. O que se passa de errado connosco? Há quem diga que é o capitalismo...eu não sei...parece que andamos todos viciados em ser passageiramente desligados do tempo que interessa medir.
Com a morte da minha avó, e com a dor do luto, invariavelmente, muitas perguntas de culpa nadaram na minha cabeça. Porque não a visitei mais vezes? Porque coloquei tantas tarefas à sua frente? Porque não utilizei o tempo para passearmos juntas? Porque preferi sempre me queixar da falta de tempo? Etc, etc. Nestas situações de luto, é impossível fugir a este tipo de pensamentos, é impossível não “perder tempo” a reequacionar prioridades, é impossível não sentir uma ponta de raiva por esta cultura do busyness, raiva por me sentir menos pessoa quando me permito apenas viver.
Com a morte da minha avó, e com a dor do luto, invariavelmente, muitas perguntas de culpa nadaram na minha cabeça. Porque não a visitei mais vezes? Porque coloquei tantas tarefas à sua frente? Porque não utilizei o tempo para passearmos juntas? Porque preferi sempre me queixar da falta de tempo? Etc, etc. Nestas situações de luto, é impossível fugir a este tipo de pensamentos, é impossível não “perder tempo” a reequacionar prioridades, é impossível não sentir uma ponta de raiva por esta cultura do busyness, raiva por me sentir menos pessoa quando me permito apenas viver.
Dou por mim a pensar que este género de pensamentos não pode
fazer apenas parte de um período difícil, mas sim de uma reflexão colectiva. Já
pensaram o quanto este mundo pode ganhar se tivermos tempo?
Deixo esta reflexão juntamente com uma receita que se enquadra perfeitamente nela. Também as flores de sabugueiro são passageiras. Criam um cenário incrível com a chegada da Primavera. Um cenário exuberante, que invade a paisagem Portuguesa com a falta sensação de que estas flores vão estar sempre ali à nossa disposição. Mas não. Têm um tempo exacto e preciso para serem apanhadas e degustadas. Se deixamos passar esse momento, apenas teremos acesso às suas bagas, que também terão um momento de vida muito curto. A vida é feita de momentos. E só depende de cada um de nós saber aproveitá-los, não os afogar nesta cultura do busyness, que nada de bonito nos traz.
Tónico de Flor de Sabugueiro
(Adaptado do livro Feito em Casa - Conservas, de Dick e James Strawbridge)
Tempo de preparação: 25horas
Dificuldade: Médio
Quantidades: 1,5l (aproximadamente)
Ingredientes:
1l de água
1kg de açúcar
15 cabeças de flor de sabugueiro (bem sacudidas dos insectos)
sumo de 1 limão
2 limões, sem raspa e cortados em fatias
Modo de Preparação:
Fervemos a água numa caçarola. Adicionamos o açúcar e mexemos até o dissolver. Vertemos numa tigela grande e juntamos as flores de sabugueiro, o sumo de limão e os limões fatiados. Mexemos, tapamos com um pano de cozinha e reservamos de um dia para o outro. Na manhã seguinte, coamos com uma gaze fina. Guardamos em garrafas esterilizadas, dentro do frigorífico. Podem usar este tónico em bebidas, sobremesas, bolos, gelados.
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