Era muito pequena, mesmo muito
pequena quando esta história aconteceu. Não me lembro da minha idade em
concreto, nem me lembro de todos os pormenores da história. Apenas tenho a certeza que esta história foi e é um marco na minha vida.
Tudo aconteceu numa noite fria de outono ... ou seria inverno. Na rua um manto ténue de geada cobria a noite e eu dormia aconchegada, protegida ao lado do meu pai. A minha mãe trabalhava longe de casa e naquela semana tinha ficado em modo guarda parental. Lembro-me que íamos cedo para a cama. (Não imaginam as saudades que tenho disso.)
Estávamos então já a dormir, quando alguém nos bate à porta em completo sobressalto, com uma voz de urgência a pedir socorro. As pancadas iam ficando mais fortes, à medida que o meu pai e eu acordávamos do sono descansado. A voz feminina corria entre o acudam ou por favor abram a porta. Já aqui falei no blogue de como a porta dos meus pais, quando moravam na aldeia, sempre esteve aberta a todas as pessoas, fosse para se juntarem à mesa, fosse para pedirem auxílio. Mais do que uma porta era um porto seguro.
Apesar de serem recorrentes os pedidos de auxílio, eu tive medo. O meu pai abriu a porta e ainda mais assustada fiquei. À entrada da porta, a vizinha do lado, uma senhora na casa dos trinta e poucos anos, vestia camisa de dormir branca, fina, os pés protegidos apenas por uns chinelos fracos, a cara jovem enrugada pelo frio e pelo ar aterrorizado. Olhando com atenção podíamos ver ainda manchas viscosas de um vermelho vivo a alastrar pela camisa de dormir. Olhando com atenção, podíamos sentir todo o medo e aflição de uma vítima. Uma vítima cujo marido tentara esfaquear, mas que por estar bêbado acabara por se cortar a ele próprio. Uma vítima que há anos aguentava aquele tipo de comportamento. Uma vítima que estava ali diante do meu pai, completamente fragilizada a pedir socorro, não para ela, mas para o marido. Em pranto pedia ao meu pai que levasse o seu agressor ao hospital mais próximo.
Aquela noite ficou para sempre gravada na minha memória. Cresci com ela e com todas as dúvidas que isso implicava. Poderia um homem agredir uma mulher? Haveria alguma explicação para isso? O que poderia aquela mulher fazer? Será que a policia podia fazer alguma coisa? Porque é que aquele homem bebia até perder a noção do seu comportamento? Porque é que aquela mulher continuava casada com ele? Porque é que aquela senhora tão simpática continuava a ter filhos com aquele homem?Tantos porquês...
Eu era pequena, muito pequena. Vivia num ambiente familiar pacífico, funcional, agradável, protegido. Portanto, como devem calcular, aquele episódio marcou-me, principalmente de dúvidas para as quais naquela tenra idade era difícil encontrar respostas que me satisfizessem ou que eu compreendesse.
Tudo aconteceu numa noite fria de outono ... ou seria inverno. Na rua um manto ténue de geada cobria a noite e eu dormia aconchegada, protegida ao lado do meu pai. A minha mãe trabalhava longe de casa e naquela semana tinha ficado em modo guarda parental. Lembro-me que íamos cedo para a cama. (Não imaginam as saudades que tenho disso.)
Estávamos então já a dormir, quando alguém nos bate à porta em completo sobressalto, com uma voz de urgência a pedir socorro. As pancadas iam ficando mais fortes, à medida que o meu pai e eu acordávamos do sono descansado. A voz feminina corria entre o acudam ou por favor abram a porta. Já aqui falei no blogue de como a porta dos meus pais, quando moravam na aldeia, sempre esteve aberta a todas as pessoas, fosse para se juntarem à mesa, fosse para pedirem auxílio. Mais do que uma porta era um porto seguro.
Apesar de serem recorrentes os pedidos de auxílio, eu tive medo. O meu pai abriu a porta e ainda mais assustada fiquei. À entrada da porta, a vizinha do lado, uma senhora na casa dos trinta e poucos anos, vestia camisa de dormir branca, fina, os pés protegidos apenas por uns chinelos fracos, a cara jovem enrugada pelo frio e pelo ar aterrorizado. Olhando com atenção podíamos ver ainda manchas viscosas de um vermelho vivo a alastrar pela camisa de dormir. Olhando com atenção, podíamos sentir todo o medo e aflição de uma vítima. Uma vítima cujo marido tentara esfaquear, mas que por estar bêbado acabara por se cortar a ele próprio. Uma vítima que há anos aguentava aquele tipo de comportamento. Uma vítima que estava ali diante do meu pai, completamente fragilizada a pedir socorro, não para ela, mas para o marido. Em pranto pedia ao meu pai que levasse o seu agressor ao hospital mais próximo.
Aquela noite ficou para sempre gravada na minha memória. Cresci com ela e com todas as dúvidas que isso implicava. Poderia um homem agredir uma mulher? Haveria alguma explicação para isso? O que poderia aquela mulher fazer? Será que a policia podia fazer alguma coisa? Porque é que aquele homem bebia até perder a noção do seu comportamento? Porque é que aquela mulher continuava casada com ele? Porque é que aquela senhora tão simpática continuava a ter filhos com aquele homem?Tantos porquês...
Eu era pequena, muito pequena. Vivia num ambiente familiar pacífico, funcional, agradável, protegido. Portanto, como devem calcular, aquele episódio marcou-me, principalmente de dúvidas para as quais naquela tenra idade era difícil encontrar respostas que me satisfizessem ou que eu compreendesse.
Se calhar hoje, nos meus dias de adulta, já tenho resposta para algumas das questões, já percebi que tal como na minha infância, ainda hoje a violência doméstica é uma realidade demasiadamente recorrente, vivida em silêncio, com pequenos gritos de ajuda nos momentos mais aterrorizantes. Desde o início do ano, já faleceram 12 mulheres, inocentes, mães, amigas, filhas de alguém, pessoas com sonhos e projectos, vítimas de violência doméstica. Os números continuam alarmantes. Mas isto não se trata de uma questão de números, pois não? Mesmo que só morresse uma mulher, seria alarmante na mesma. A vida de um ser não pode ser resumido a números, mas em Portugal as estatísticas sobre este assunto assustam e gritam: É PRECISO FAZER ALGUMA COISA!
A sociedade continua a não ter resposta ou solução. Por um lado, parece que parámos na idade da pedra no que toca à mentalidade e cultura das pessoas. Tantas vezes que oiço ou leio (principalmente nas redes sociais) comentários retrógrados que procuram justificar actos de violência: Se calhar ela mereceu...ou... o que terá ela feito?...ou ele até é bom homem, mas às vezes perde as estribeiras. Fico furiosa com este tipo de observações, até porque na maioria dos casos surgem na boca de outras mulheres. Nada, nem ninguém pode justificar uma agressão. Repito, Nada. Se mais ninguém nos apoia, pelo menos nós mulheres temos de ser o amparo umas das outras. Só assim poderemos defender os nossos direitos e exisgir igualdade, de direitos e deveres.
Por outro lado, as entidades competentes parece que pararam no tempo. Basta analisar como se continuam a deixar à frente de instituições importantes, como a justiça, homens e mulheres que julgam por preconceito, por citações da bíblia, por ideias podres que em nada dignificam a justiça portuguesa, muito menos as mulheres deste país.
Há tanto para falar sobre este tema. Que por mais palavras que aqui discorra serão sempre poucas.
Também não sei qual a melhor solução. Contudo, de uma coisa tenho a certeza, não é com silêncios que isto lá vai. Em silêncio vivem as vítimas. Como a minha vizinha, que só abria a boca para pedir ajuda e nem sempre para ela. É urgente, investir em formação, sensibilizar os jovens para a igualdade, para o respeito, para aprenderem a viver sem ideias preconcebidas, para aprenderem a viver em diálogo, independentemente do género, da raça, das opções de vida.
Precisamos dessa mudança. Ontem!
Pão de Espelta e Sementes
Tempo de preparação: 2h50 aprox.
Dificuldade: Média
Quantidades: 1 pão
Ingredientes:
450g de farinha de espelta;
2 saquetas de levedura seca
100g de sementes de girassol
100g de sementes de linhaça
Água
1 colher de chá de açúcar branco
Azeite
Modo de Preparação:
Num recipiente colocamos um pouco de água morna. Adicionamos a colher de açúcar e mexemos até o açúcar se dissolver. Juntamos as saquetas de fermento e voltamos a mexer bem. Tapamos o recipiente com um pano e deixamos levedar durante cerca de 10 minutos. A mistura estará no ponto quando observarmos na superfície uma espécie de espuma com bolinhas.
Numa
taça juntamos a farinha de espelta, as sementes, uma pitada de sal. Misturamos
levemente com as mãos. Abrimos um buraco no centro. Juntamos a mistura da água
e amassamos com as mãos, durante alguns minutos, até obtermos uma massa macia e
homogénea.
Deixamos
levedar durante cerca de 1h30 ou até duplicar de tamanho. Numa bancada,
polvilhada com farinha amassamos a massa com suavidade. Untamos uma forma com
azeite e modalmos a massa. Sendo que devemos dobrar as pontas para dentro e
dessa forma colocarmos a massa na taça. Deixamos descansar durante 30 minutos.
Pré-aquecemos
o forno a 160ºC. Colocamo um recipiente, próprio de ir ao forno, no fundo do
forno com água. Levamos a massa ao forno e deixamos cozer durante cerca de 40
min.
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