Há dois anos, retomava as minhas raízes. Mudava-me de bagagem cheia para o sossego do campo, depois de quase quatro anos a viver no centro da cidade. Mudava-me para o verde intenso, que se estende desde o meu jardim, até aos campos agrícolas dos vizinhos. Mudava-me para ter uma vista desimpedida sob o nascer do sol. Voltar ao campo foi a melhor decisão que alguma vez tomei na minha vida.
Já partilhei aqui no blogue que este meu gosto pelo campo prende-se com as minhas raízes. Cresci numa família de antepassados agricultores e a maior parte das memórias infantis são pontuadas pelo mundo rural. Contudo, sempre tive curiosidade de experimentar viver no centro de uma cidade.
Quando fui viver com o meu marido para um apartamento (depois de quinze anos a morar numa quinta isolada) pareceu-me tudo fascinante, um desafio, uma experiência, uma aventura. Na verdade, sabe bem ter as comodidades todas à porta, não ter de usar o carro para me deslocar para o trabalho, conseguir ter acesso a meios de transporte públicos com horários em condições, chegar a tempo e horas aos compromissos, etc. Não vou negar.
Tudo isto tem um sabor a conforto, até falarmos do barulho. Mais do que saudades do campo, esta foi a grande questão que me fez querer voltar à vida pacata de aldeia. Durante quatro anos tive muita dificuldade em aguentar o barulho. Uma cidade por mais pequena que seja nunca dorme, o ruído é uma constante.
Pela primeira vez, tive de lidar com um verdadeiro pesadelo que se chama: insónias. Insónias porque os vizinhos de baixo deixavam máquinas a funcionar em altos berros durante a noite, insónias porque as vizinhas do lado insistiam em cenas de pancadaria verbal com visitas nocturnas da polícia, insónias porque a recolha do lixo se faz em horários proibitivos, insónias porque nunca há uma pausa na circulação de pessoas, veículos e coisas. Insónias…porque uma cidade não pára.
Ao início adoptei a postura de: dá tempo ao tempo. Não estás habituada, mas daqui a uns meses já não ouves nada. Quando esta postura não funcionou, decidi assumir um novo adereço nas minhas noites: usar tampões nos ouvidos. Ainda avancei para o modo exigir respeito aos causadores de barulho (pelo menos a alguns…mas nada resultou. Então como não dormia, passei a aproveitar o tempo para uma coisa: trabalhar, trabalhar, trabalhar. Como devem calcular o resultado foi péssimo. E posso-vos garantir que passado dois anos ainda andam a pagar a conta desta asneira toda.
Sei que hoje em dia, a sociedade de uma forma geral olha para o sono como algo sobrevalorizado. O importante é estarmos em constante modo activo, produtivo, energético, lucrativo. Os horários de tudo são cada vez mais prolongados e mais frenéticos. A toda a hora vejo pessoas a partilhar as suas insónias no facebook, no instagram e por aí fora. Não desligamos. Exigem, alguém, uma entidade, um sentimento comum, que estejamos sempre em alerta constante e que só assim conseguiremos ser pessoas de sucesso (seja lá o que isso for).
Durante quatro anos, percebi como estamos enganados, e como vamos todos ficar doentes (como já estamos doentes) se não mudarmos esta nossa forma de viver. Este foi a grande razão para querer voltar ao campo. Eu não posso querer ser melhor pessoa, melhor cidadã senão respondo à minha necessidade básica maior, que me permite controlar todas as outras. Durante quatro anos, com o sono sempre à flor da pele, gastei mais dinheiro em coisas supérfluas, comi este e outro mundo na tentativa de sentir conforto físico e psicológico, não investi nos meus sonhos pessoais, ganhei hipertensão, perdi tempo.
Esta foi a grande razão para decidir pegar na bagagem e rumar para zonas mais pacatas. Tive o grande apoio do marido, fã incondicional da cidade, das suas mordomias e conforto, do seu barulho. Somos tão diferentes, mas numa coisa tão iguais: queremos o bem um do outro.
Todos temos o direito de lutar pelo que nos faz bem, por termos as devidas condições para viver uma vida de qualidade. E uma vida de qualidade nem sempre significa ter tudo à nossa maneira, com o maior dos confortos.
Se é tudo cor-de-rosa no campo? Obviamente que não. Mas finalmente voltei a descobrir o que é o silêncio, voltei a descobrir-me. E isso vale mais que mil tesouros. Como disse no início do texto, voltar ao campo foi a melhor decisão que alguma vez tomei na minha vida. Ter a capacidade de deixar o conforto da cidade, fez de mim uma pessoa mais feliz, mais serena, mais terra a terra. E acima de tudo fez de mim uma pessoa com o sono em dia. Não sei o que a vida me reserva, mas enquanto o universo ajudar, vou continuar neste meu cantinho, com a minha micro horta, a minha cãomiúda e o meu amor....ahhh e claro com a indevida ocupação dos terrenos dos vizinhos com as produções do Reservatório de Sensações (como aconteceu com as fotos desta tarte. Obrigada vizinhos pela paciência!)
Dificuldade: Média
Quantidades: cerca de 10 fatias
Ingredientes para a massa:
180g de farinha trigo sem fermento
80g de manteiga fria com sal
1 colher de sobremesa de manjericão seco
1 ovo
Ingredientes para o recheio:
1 cebola roxa média
1 colher de sobremesa de açúcar mascavado
200g de cogumelos marron
100g de cogumelos shitake
1 colher de sobremesa rasa de alho em pó
1 pitada de pimenta preta
Azeite q.b.
Molho de Soja q.b.
3 ovos
200ml de natas
Modo de preparação:
Num processador de cozinha colocamos a farinha, o manjericão e a manteiga partida em cubos. Misturamos até obtermos uma textura areada. Podemos fazer este processo manual, com as pontas dos dedos. O objectivo passa sempre por atingir a tal espécie de areia. Juntamos o ovo e amassamos tudo até ficar ligado. Com cuidado para não amassarmos demais. Levamos ao frigorífico durante 30 minutos antes de usar.
Numa frigideira, refogamos a cebola roxa em azeite, durante cerca de 10 minutos em lume médio. Acrescentamos o açúcar e duas colheres de sopa de água. Deixamos caramelizar durante mais ou menos 20 a 25 minutos. Retiramos do lume, e reservamos. Laminamos os cogumelos. Noutra frigideira antiaderente, aquecemos o azeite com o alho em pó. Adicionamos os cogumelos. Deixamos saltear durante 2 minutos. Juntamos a pimenta preta e o molho de soja (a gosto). misturamos bem. Retiramos do lume e reservamos.
Pre-aquecemos o forno a 180ºC. Esticamos a massa numa superfície enfarinhada até ficar com uma espessura de 5mm, aproximadamente. Transferimos a massa para uma tarteira. Pressionamos para que esta ganhe a forma da tarteira. Picamos o fundo com um garfo. Reservamos.
Numa taça limpa batemos os ovos e as natas. Adicionamos a cebola caramelizada e os cogumelos. Misturamos bem. Vertemos sobre a tarteira e levamos ao forno durante cerca de 35 minutos. Deixamos arrefecer antes de servirmos.
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