Bolo Vitória (com um twist)

A época dos balancetes já passou, os inventários ficaram fechados e os resumos anuais já tiveram tempo de acontecer. Mas bloguer que faz anos em cima do Natal sabe que as introspecção pessoais e autocráticas acontecem sempre depois da azáfama das festas, dos altos níveis de açúcar saírem do sangue e a pressão de produzir algo bonito para o Natal desapareça. Duas semanas depois do ano novo, começo a sentir o peso dos 32 anos, a sentir que é tempo de reflectir. Lembro-me perfeitamente que aos cinco anos, qualquer familiar meu que tivesse na casa dos trinta, era considerado pela minha pessoa um "quase cota". Portanto, quando era mais pequena olhava para os trinta como aquele patamar de segurança, de independência dos pais, com um trabalho estável, com adrenalina q.b., com sonhos concretizados. A verdade é que as idealizações fogem sempre à realidade. E isso é um perigo muito grande. Se os 29 anos foram celebrados com a convicção do mundo e a esperança estampada no rosto, a celebração dos primeiros trinta não foram lá muito inspirados, nem inspiradores. Houve uma espécie de linha entre os 29 e os trinta, aquela linha que separa a juventude idealista, da juventude amadurecida com responsabilidades, que precisa de pagar as contas ao final do mês e que se sujeita a imensa porcaria para que se possa manter independente.



Existem expectativas demasiadamente altas em relação aos trinta. A pressão social é enorme: Ou mudas de vida aos trinta ou vais continuar a ser um falhado. A ideia é repassada de mansinho entre conversas sobre empreendedorismo, sucesso e ideias feitas sobre o que deve ser o estado social. Aos trinta temos de nos saber afirmar, que é como em diz ser dinâmicos e vender a banha da cobra. A família pergunta quando vamos casar, afirma que já estamos em idade de ter filhos, que aos trinta já tinham casa própria, etc. E mesmo que hoje as convenções, o desenvolvimento de uma pessoa, as prioridades tenham mudado e os sonhos tenham mudado, a verdade é que este tipo de pressão encontra sempre espaço para se instalar. Já o mercado de trabalho olha para os trinta como uma pessoa alérgica a amendoins olha para uma barra energética. Com um olhar desconfiado, algum nojo e apreensão. Não ajuda pessoal!! Sim, confesso, entrei nos trinta em crise, em descrédito, a equacionar tudo e todos, devido às excessivas mudanças, aos demasiados clichés, às conversas fúteis, às pressões, aos sonhos que nunca pensei deixar para trás. Mas a verdade é que dois anos depois, a vida tem-me ensinado a encontrar o equilíbrio entre a responsabilidade madura e a personalidade sonhadora que sempre fez parte de mim. Apesar da moda de hoje ser a de agradecer tudo e mais alguma coisa, a verdade é que eu não agradeço os tombos que os iniciais trinta me deram, mas sei que tudo aconteceu para que o meu processo de aprendizagem fosse maior. Não agradeço, mas sei que tudo fez sentido e que tudo faz mais sentido hoje e que mais tombos irão aparecer pelo caminho. Por isso, concentro-me no que é bom, mas também no que é mau. Concentro-me em valorizar o que fiz bem mas também o que fiz de errado. Acima de tudo, julgo que o mais importante foi descobrir que não faz mal repensar sonhos, repensar objectivos de vida, que é importante saber parar para depois seguir em frente ou para os lados, ou para trás, ou para onde quisermos. O importante é termos a autoconfiança para impor o nosso caminho, mesmo que esse percurso se faça lentamente na calmaria dos dias, ao ritmo pessoal.
 


Bolo Victória (com um twist)
Ingredientes
225gr de açúcar
1 colher de chá de açúcar baunilhado
225gr de manteiga
225gr de farinha
1 colher de chá de fermento em pó
1 colher de café de canela
1 colher de café de cardamomo
4 ovos
leite (se necessário)

Cobertura de Chocolate Negro
Ingredientes
150gr de chocolate negro
100ml de natas para bater

Pré-aquecemos o forno a 180ºC. batemos a manteiga e o açúcar, até obtermos um creme fofo e pálido. Adicionamos o açúcar baunilhado. Aos poucos misturamos os ovos com o creme de manteiga. Envolvemos a farinha, o fermento, a canela e o cardamomo* com uma colher grande de metal até todos os ingredientes estarem bem envolvidos (ter cuidado para não misturar em demasia). Caso seja necessário soltar um pouco a massa obtida, juntamos um pequeno fio de leite. Deitamos a massa numa forma previamente preparada (ou em dividimos a massa por duas formas). Levamos ao forno aproximadamente 35 minutos, ou até o bolo estar dourado e bem cozido. Deixamos arrefecer na forma durante cinco minutos e desenformamos sobre uma grelha. Quando estiver bem frio, recheamos o bolo. Habitualmente, o Bolo Victória é recheado com natas, compota de morango e/ou frutos vermelhos. Contudo, esta minha versão foi recheada apenas com compota de amora (não muito doce), geleia de marmelo. A terminar com uma cobertura de chocolate. Para a cobertura, partimos o chocolate negro em pedaços para dentro de uma taça que possa ir a banho-maria. Depois de o chocolate derreter juntamos as natas e mexemos bem até ficarem incorporadas. Deixamos arrefecer antes de usar.

*Habitualmente, o Bolo Victória ou Bolo Esponja não leva qualquer especiaria. Contudo, tendo em conta que este bolo foi confeccionado para uma data especial, em pleno Inverno, achei por bem adicionar um pouco mais de calor e de acolhimento. Para tal, usei especiarias fortes como a canela e o cardamomo, que a meu ver transmitem uma sensação de conforto em família. 






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