O paraíso Low Cost às portas de Portugal - Ilhas Cíes parte I

Sobrevoei-as em 2016 ainda antes de saber da sua existência. Tinha acabado de levantar voo no Porto em direcção à lua-de-mel na verdejante e simpática Irlanda, quando por baixo dos meus olhos de criança amedrontada (tenho pavor a voar) apareceram umas ilhas rodeadas do típico azul turquesa paradisíaco. Julguei por momentos que algo de errado teria acontecido com o avião e que nos estaríamos a desviar da rota. Mas tal era impossível, pois para trás tinha ficado o Porto há tão pouco tempo. Quando aterrei na Irlanda, o deslumbramento (e a Guiness) apoderou-se de mim e para trás ficou aquele azul. Foi assim, porém, que começou a minha história com as Ilhas Cíes.

Uma história que só teve novos capítulos em 2017, quando através do Instagram descobri (quase sem querer) que aquele arquipélago de azul hipnotizador se encontrava mesmo à porta de casa, no Parque Marítimo Terrestre das Ilhas Atlântica da Galiza. Quantas mais fotos passavam pelo meu ecrã, mais a paixão crescia. Por isso este ano, a mensagem para a família foi clara. Vamos em força para o Norte e para as Ilhas Cíes. Basicamente não tiveram escolha.


Sei que nos últimos meses, nas redes sociais portuguesas, foram publicadas várias notícias sobre este Tesouro Secreto. Posso-vos já adiantar que se há coisa que as Ilhas Cíes não são é secretas. Em 2007, a Praia de Rodas (praia que une duas das ilhas deste arquipélago) foi considerada pelo The Guardian uma das mais bonitas do mundo. Portanto, como devem calcular desde essa altura que as Ilhas tiveram um boom de turistas.

Nada que nos fez pensar duas vezes. Saímos de Caminha (onde também gozámos alguns dias de férias) com o lusco-fusco que antecede o nascer do sol. Meios a dormir, meios ansiosos com o destino, meios parvos com o excitamento. Bem talvez só eu estivesse meia parva, dado o nervoso miúdo. Evitámos auto-estradas e fomos conhecendo um pouco da Galiza, até chegarmos a Vigo. Uma aventura, para quem (como eu) nunca tinha conduzido fora de Portugal. Mas foi muito fácil chegar a Vigo. Principalmente, porque a paisagem é linda. Deixámos o mar para trás e enveredámos por montes e pequenas aldeias à beira da estrada. Já Vigo (que quero visitar com mais calma) pareceu-me uma cidade muito bonita e interessante.

A única forma de chegar às Cíes é através de barco: privado ou através de ferry boats. E como infelizmente, não tenho a sorte de ter um veleiro, optámos por viajar com a Mar-de-Ons. Cada bilhete de ida e volta ficou por 18,5€. Existem mais companhias a fazer o trajecto mas os preços são muito semelhantes no mês de Agosto. Vigo e Cíes distanciam 40 minutos de barco. Um trajecto na maior parte das vezes tranquilo, uma vez que estamos a falar de navegação nas Rias Baixas, ou seja não há a turbulência que existe em alto mar. Além disso, tivemos a visita de dois grupos simpáticos de golfinhos, que deixaram a pequenita da casa emocionada (ela diz que não, mas ficou).

Chegar às Cíes é chegar ao paraíso. Acreditem que não estou a ser exagerada. Assim que saí do barco pensei que tinha sido incluída num postal das Caraíbas. Azul cristalino e transparente? Check. Areia branca, fina e macia? Check. Bosques frondosos que se estendem até ao areal? Check. Sol quente e convidativo? Check. Para os romanos (sim os romanos também andaram por aqui), as Cíes eram consideradas as Ilhas dos Deuses. Só vos posso garantir que se percebem bem porque.





Ouvimos muita coisa nos dias que antecederam o embarque. Muita gente nos avisou das confusões, do caos, das praias cheias, da falta de comida, dos preços altos, do barulho. Portanto, apesar das expectativas, fomos com algum receio. Só tenho uma coisa a dizer, quem se queixa disto em relação às Cíes, é porque nunca foi ao Algarve ou Alentejo, em época alta. Sim há muita gente nas Cíes, que se concentra principalmente na tal praia que é a melhor do mundo. Sim há muita gente nas filas para a pouco restauração. Mas também existem praias escondidas silenciosas, filas em que as pessoas brincam e se conhecem, caminhos pedestres maravilhosos e uma sensação de descontracção maravilhosa. De facto, estava à espera de mais pessoas, mais lixo e menos respeito. E apesar de existirem sempre maus exemplos (existem em todo o lado), a verdade é que a maior parte das pessoas são ordeiras e respeitam as regras deste parque natural. Uma delas prende-se com o lixo e que me deixou surpreendida. Na ilha não há caixotes do lixo (tirando restauração e alojamento), por isso as pessoas são convidadas a guardar o lixo num saco e a trazerem-no de volta para o continente. A maior parte das pessoas respeita esta regra e apesar de as Cíes serem um ponto turístico altamente rodado vê-se pouco lixo espalhado. Existem apenas quatro restaurantes, o que na minha opinião é maravilhoso e mais que suficiente. Permite que a ilha mantenha um lado mais primitivo, que afasta grandes multidões. Aconselho o Restaurante junto ao cais. Fazem uns calamares deliciosos. Tão bons que tive uma gaivota a pousar na minha cabeça enquanto me tentava roubar o prato. Convenhamos que a maior parte do tempo, eu e a minha família recorremos à típica receita de atum. Abre-se uma lata de atum, abre-se um pão, atira-se o atum para dentro do pão e está feito.



Para além dos quatro restaurantes existe ainda a pequena mercearia do Parque de Campismo. Acreditam que com o que líamos na internet ficámos com medo de não arranjar água e fomos carregados de garrafões de água? Esqueçam, podem comprar água à vontade na tal pequena mercearia. Embora, os preços sejam mais caros, a verdade é que não é nada de exorbitante ou que não aconteça noutras zonas turísticas quer em Portugal, quer em Espanha.

Alojamento também só existe um: o Parque de Campismo. Embora simples tem muitos pontos a favor. Podem acampar com tendas próprias ou alugar uma tenda. Tendo em conta as condições das tendas para alugar, considero o preço um bocadinho elevado, mas pelo menos é uma opção que permite dormir em cima de um colchão . Além disso, se alugarem tenda, não têm de andar carregados com muita tralha. Porque entre o cais e o parque é preciso percorrer cerca de 1,5km e, apesar de disponibilizarem uns carritos de mão, não é fácil (vejam as fotos). A limpeza do Parque de Campismo também me surpreendeu. As instalações são rudimentares mas sempre asseadas, sem confusões. Cada campista tem direito a duas fichas para banhos de água quente com duração de três minutos. Um verdadeiro luxo, num sítio com limitações de água doce e limitações energéticas.

Portanto, como podem ver as Cíes são um verdadeiro paraíso Low Cost, com menos comodidades, menos mordomias. Eu prefiro assim, sentir a natureza, adaptar-me, fazer do pouco muito. Se os Deuses por cá passaram, é porque este sítio é mesmo encantador, se calhar podemos mesmo dizer que as Cíes são um pedaço do céu na terra.


Informação mais que útil para visitar as Cíes:

AS ILHAS
O Arquipélago é composto por três ilhas: Monte agudo, Faro e San Martiño. As duas primeiras são as mais visitas, onde param os ferry-boats e que estão ligadas pelo longo areal da Praia de Rodas e por uma ponte construída que separa o Lago dos Nenos e o Atlântico. A terceira ilha só é acessível através de barco privado. Estas ilhas fazem parte do Parque Nacional das Ilhas Atlânticas

QUANDO VISITAR
É possível visitar este local entre Junho e Setembro. Existem algumas viagens em alturas especiais, como Páscoa, feriados e alguns dias festivos.

COMO CHEGAR
De barco privado ou de ferry boat a partir de Vigo, Baiona e Cangas. Os bilhetes podem ser comprados online. Os lugares são limitados uma vez que por dia só são autorizadas pouco mais de 2000 mil pessoal. Convém comprar os bilhetes com antecedência. Para efectuar um maior controlo do número de pessoas a visitarem diariamente as Ilhas Atlânticas que é necessário pedir uma autorização administrativa prévia junto da Junta da Galiza. Para quem viaja desde Portugal, não esquecer que o fuso horário em Espanha é de +1hora. Todos os horários dos barcos são apresentados na hora espanhola.

ALOJAMENTO
Como referi, só existe o Parque de Campismo nas Ilhas Cíes. A reserva antecipada é obrigatória. Mais informação e preços aqui.

RESTAURAÇÃO
Existem quatro restaurantes: Restaurante de Rodas (junto ao cais), Restaurante Camping Islas Cies, Restaurante Serafin a caminho da Praia da Nossa Senhora e junto a este encontra-se um quarto do qual não me lembro o nome, mas cujas empregadas são super simpáticas. Não esquecer a mercearia do Parque de Campismo onde é possível adquirir alimentos.

Nota: Obrigada ao meu pai que se lembra sempre de carregar a máquina fotográfica e me cedeu algumas fotos deste post. 



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