Sonhos de Abóbora (para adultos)

Tinha prometido a mim mesma, que seria neste Natal que a técnica e a mestria da avó para confecionar as fritas de abóbora não me iam escapar. Ia dedicar tempo e vontade a aprender com ela todos os truques necessários para fazer os melhores doces de Natal. Contudo, existem promessas que nada podem contra o poder das gripes. Como devem calcular fiquei um bocadinho triste. Estava mesmo empenhada nesta tarefa. Porque esta vontade repentina? Apercebi-me este ano, enquanto reflectia sobre as memórias de outrora, que este género de doces sempre foi um elemento muito importante na família. Devem estar a pensar: Sim Ana, estes doces marcam presença em todas as casas portuguesas. É verdade. Mas não me refiro apenas a marcarem presença. Falo da importância que sempre tiveram no despertar do espírito natalício, de juntar as pessoas em torno do fogão de lenha, das conversas mais doces.






Nos dias de hoje, é super fácil adquirir as fritas de Natal, pois são tantas as pastelarias com montras gulosas nesta altura. Mas há uns anos atrás (e acreditem eu não sou assim tão velha) a oferta era escassa, principalmente para quem morava no interior do país. Porém, havia algo que era bem mais precioso do que o número de pastelarias: o tempo de qualidade para investir nos momentos em família. As pessoas tinham tempo. Por exemplo, não me lembro dos tios a trabalharem na véspera de consoada, nem no dia de Natal. Não me lembro das pessoas passarem o dia agarrados ao telemóvel a mandar SMS a quem está longe e que tantas vezes não deixa de ser desconhecido. Não me lembro das pessoas a correrem de um lado para o outro com compras de última hora.






O que me lembro é que o Natal começava com todos reunidos na cozinha da minha avó, em torno do fogão de lenha, uma frigideira preta e massa para as ditas fritas de abóbora. Eu lambuzava-me com o açúcar para polvilhar os sonhos. A minha mãe advertia-me para não o fazer, mas era tão bom. Principalmente, quando conseguia roubar um sonho ainda quente. O único stress era este, ter as fritas prontas a tempo das festas. Os anos passaram, a avó já não consegue confecionar as fritas sozinha. Mas ainda não será neste Natal que vou aprender com ela todos os truques, a maneira como ela deixava os sonhos fofos, doces e com o toque perfeito da abóbora. Porém, Natal é quando o homem quiser. Portanto, cheira-me que na Páscoa vai haver Sonhos de Abóbora para toda a gente. Para já, partilho convosco uma receita que testei em Novembro e que têm um toque especial a maturidade (sorrisos), impróprio para os mais pequenos.






Sonhos de Abóbora Para Adultos
Ingredientes
400g de abóbora manteiga (já limpa)
50g de açúcar (mais o necessário para polvilhar os sonhos)
1 casca de laranja
1 cálice bem cheio de aguardente
500g de farinha autolevedante
1 colher de sopa de Maizena
Raspa de 1 limão
3 ovos
Óleo

Cortamos a abóbora em cubinhos pequenos, juntamos o açúcar e a casca de laranja. Levamos a cozer, em lume brando, até a abóbora estar macia. Retiramos a casca de laranja e desfazemos a abóbora com a varinha mágica. Adicionamos a aguardente e, fora do lume, deitamos a farinha, previamente peneirada com a Maizena. Batemos energicamente com uma colher de pau, ou as mãos. Assim que a massa começar a separar das paredes do tacho, adicionamos os ovos, um a um, sem nunca deixarmos de bater. Envolvemos a massa até os ovos serem completamente absorvidos. Juntamos a raspa de limão. Com a ajuda de uma colher de sopa, retiramos bocadinhos de massa e fritamos em óleo bem quente. Vamos picando os sonhos com um espeto e deixamos fritar bem, para que cresçam. Escorremos os sonhos sobre papel absorvente, para depois os polvilharmos com açúcar.
 




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