Bolachas de Manteiga de Amendoim e Chocolate (ou reflexões para entrar na época festiva)

As luzes com diferentes formatos, cores e intensidade já brilham nas ruas. O azevinho do jardim dos pais está carregadinho de bolas vermelhas. As lojas emanam inspiração festiva. O verde, o vermelho, os dourados e os prateados juntaram-se em todas as montras. Nos centros comerciais os pais natais apelam ao consumismo celebrativo. O cheiro das lareiras tem outro significado. E sempre que pressinto o aroma a canela no ar o meu estômago veste-se de desejos natalícios. É oficial, mais um Natal que está a porta. O lufa-lufa de papeis de embrulho, de fitas e lacinhos, de sonhos e azevias, de cartas ao Pai natal, de manhãs de sozinho em casa e serões de música no coração começou outra vez. Na família, há quem já venha a preparar esta época desde o final das férias de Verão. Confesso que não é o meu caso. Natal é sempre que o Homem quiser, dizem. Para mim, o Natal fica mesmo bem quando chega a partir de início de Dezembro.


Gosto do Natal. Poderia não gostar. Há quem não goste e isso deve ser respeitado, que eu não sou de convenções politicamente correctas. Mas eu gosto a valer do Natal. São tantas e tão boas as memórias que guardo desta altura do ano. Fui habituada a ter Natais fartos: em pessoas, em doces, em serões descontraídos, em alegria pura. Eramos sempre mais de vinte à mesa (ou quase sempre), a criar as nossas próprias tradições. E como eu adoro tradições. Por exemplo, em casa dos meus avós maternos cada casal tinha direito a uma travessa de batatas, bacalhau e couves. Cada casal tinha de degustar a ceia directamente da travessa. Não sei como começou esta tradição, não sei se é algo regional ou apenas de casa dos meus avós. Uma coisa eu sei, não foi por falta de pratos, que a minha avó sempre teve serviços de loiça lindos. Vibrava com aqueles momentos. Eu, a minha mãe e o meu pai, os três juntinhos a saborear o Natal, sem distracções, apenas a sentir o azeite caseiro a embrenhar-se nas batatas, o bacalhau a lascar como manda o figurino. Lembro-me que a minha avó me cozia sempre um ovo, na altura o bacalhau não era muito meu amigo. Aquele ovo sabia-me ao melhor manjar. Já em casa dos meus avós paternos o Dia de Natal tinha um travo a Bisca e a Sueca. Depois do almoço a jogatina era obrigatória. Lembro-me como ficava chateada cada vez que os "grandes" não me queriam para par na Bisca. Ficava tão fula, que passei a adolescência a aprender os truques e a sinalética de jogos de tasca. Olhando para trás, sei que fui sempre uma privilegiada. Existem regalias que não se medem em dinheiro, nem em prendas, nem em serviços de loiça vistosos, nem em árvores de Natal grandiosas. Sentem-se nas memórias e nos afectos que se guardam bem lá no fundo do coração, naquele compartimento onde não entram rancores, nem más energias, nem deturpadores de memórias.




Os anos avançaram e as coisas mudaram. Os tios casaram, tiveram filhos, alguns familiares emigraram, alguns familiares desapareceram do mapa. A família cresceu e teve a sua divisão natural. Já não me posso sentar ao colo do meu pai enquanto nos rimos com as trapalhadas daquele que era miúdo e ficava sozinho em casa. Já não passeio pela cidade com a mãe, nem tiramos fotos junto ao presépio do centro histórico. As travessas são agora sempre substituídas pela individualidade de uma refeição colectiva. Tantas coisas do meu self, que nunca ficaram registadas em selfies, ou social medias. Tanta história, do meu eu, apenas gravada no capítulo das memórias. O natal invariavelmente mudou. E durante anos tenho-me sentido perdida, numa transição à qual não sabia dar valor, ou tentava travar com medo da metamorfose. Na transição entre a meninice e a fase adulta, quando me falavam do Natal, a resposta pronta era sempre a mesma: “Pois já chegou o Natal. Que Bom, mas ainda não senti o espírito de Natal”. Como se estivesse à espera que o bom fantasma do Natal me levasse às memórias de infância. Eu que sou tão defensora de que as coisas têm o seu tempo, demorei muito tempo a racionalizar que o meu espírito de Natal não pode ser o entusiasmo de gaiata repleto de inocência. Já sou adulta e cabe-me a mim dar aos mais novos da família boas memórias, bom espírito de natal, boas tradições e viver o Natal com um renovado mas feliz sentido. Até porque o Natal é mesmo a época ideal para dar! Cá em casa o Natal só chega a partir do início de Dezembro. Mas com estas reflexões já estamos em estágio. No meu caso com um renovado sentido de humildade e pronta a recordar, sem esquecer o futuro.




Biscoitos de Manteiga de Amendoim e Chocolate

Ingredintes

1 chávena de açúcar
125g de manteiga
1 ovo
1 chávena de farinha de trigo branca
1 chávena de farinha de trigo sarraceno
2 colheres de sopa de chocolate em pó
1 colher de chá de fermento em pó
115 g de manteiga de amendoim

Colocamos o açúcar e a manteiga numa caçarola. Aquecemos, mexendo com uma colher de pau, até a manteiga arrefecer. Juntamos o ovo. Peneiramos as farinhas, o chocolate e o fermento em pó para dentro da caçarola. Por fim misturamos a manteiga de amendoim. Misturamos de novo até os ingredientes estarem bem ligados. Com as mãos formamos pequenas bolinhas com a massa, que dispomos no tabuleiro, previamente preparado. Levamos ao forno, pré-aquecido, a 180ºC durante 15 minutos, ou até estarem cozidos. Esta receita dá para cerca de 20 unidades.


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