O adro da capela de
Santo António, padroeiro da aldeia, enchia-se de uma panóplia de cores e aromas
com a chegada do Dia de Ramos. Centenas de pessoas reuniam-se naquele recinto
sagrado empunhando bouquets confeccionados à base de loureiro, oliveira e alecrim.
Alguns apresentavam-se bastante toscos, outros nem por isso, assemelhavam-se a
ramos saídos de um concurso “Qual será o arranjo mais original”. Nestes casos,
os ingredientes tradicionais brotavam do meio de pinhões, ovos da Páscoa,
mimosas floridas ou de construções arquitectónicas à base de malmequeres numa
ode apaixonada à chegada da Primavera. As senhoras ansiavam sempre neste dia
por uma mensagem calorosa de São Pedro, remetida através de céu azul e um sol
esplendoroso. Só assim podiam usar as farpelas mais delicadas, guardadas
durante o ano em arcas banhadas em perfumes de alfazema e alecrim. E caso a
mensagem fosse abonatória, não era só as senhoras a rasgar um sorriso de orelha
a orelha, também as crianças aproveitavam o arraial religioso para largar as
saias das mães e correrem num rodopio frenético, com joelhos ensanguentados à
mistura. Mais do que um acto devoto, a comunidade comungava numa alegria
primaveril, que incitava o companheirismo pagão.
Um júbilo que
terminava numa catarse colorida de flores atiradas janelas fora de encontro às
cruzes da procissão erguidas ao alto.
A esta lembrança,
sobrepõe-se outras imagens de Páscoa. Já sem o adro, sem a bênção a céu aberto,
sem as melhores colchas a enfeitar as janelas, mas sempre com o regresso à
aldeia, à infância e à nostalgia das histórias que desde cedo povoaram o meu
mundo.
A Páscoa é para mim
sinónimo de tradições, rituais familiares e convívios de manhã à noite. Mais
até do que acontece no Natal. Não me canso de voltar a estes ritos cerimoniais,
com o bacalhau com todos, com a galinha em fuga que dá cabo do juízo do avô,
com as cerejas em flor e com as mesas repletas de amêndoas, laranjas e o
tradicional pão-de-ló. É a minha Páscoa e não a troco por meia dúzia de tostões.
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