Reflexão

Fico terrivelmente deprimida nesta altura do ano. Nem sei bem explicar porquê. Ou pelo menos não o consigo fazer de forma coerente. Não, não tenho problemas com os cânticos de Natal, nem com a reunião da família, nem com o stress de encontrar as prendas certas. A impressão que tenho é que toda a pressão possível e imaginável se junta no final do ano para nos relembrar de todos os objectivos que não foram alcançados ao longo dos 12 meses. Dói pensar nas idealizações, nos sonhos que não agarrámos com convicção. Dói olhar por cima do ombro para um passado, não tão longínquo, cheio de imperfeições. Talvez tenha perdido um pouco a esperança nestes últimos tempos. Dizem-me que tenho de encontrar um escape à rotina diária (trabalho, família, relações de amizade, etc) e às frustrações que ela me impõe. Não era suposto sentirmo-nos realizados com aquilo que alcançámos com muito trabalho e suor? Para quê encontrar um escape aquilo que supostamente me devia fazer feliz? As perguntas continuam a surgir em catadupa na minha cabeça, mas são pura retórica. Ou eu não soubesse à partida a resposta. A felicidade devia ser algo linear, um estado permanente. Mas de que é que me queixo? O ano que começa a findar foi um dos anos em que a felicidade mais vezes tocou à minha campainha. E mesmo assim acabei por lhe fechar a porta. Por medo, falta de confiança, receio do desconhecido? Será que vale a pena manter o rumo na ignorância frustrada? Não! Em tempos idos, acreditei que a nossa força de vontade era mais forte do que qualquer obstáculo. Talvez nessa altura fosse ingénua ou não atribuísse tanta importância aos seres desumanos desprovidos de sensibilidade que teimam em sugar a felicidade que os rodeia. Sinto-me deveras esmagada por esta reflexão. Até porque sei que, em parte, é injusta. Injusta para os que tiveram a coragem de me proteger, de me amar e de acima de tudo trabalharam arduamente para verem um sorriso sincero despontar na minha alma. Porque não me centrar nestes pequenos, mas grandiosos, pormenores? Talvez a minha reflexão tenha que adoptar a via do positivismo.

Sem comentários