Friendship

Ganhei uma nova amiga e companheira. Espreita-me todas as manhãs por cima do monitor do PC do emprego, como que a desejar-me bom dia. Quando eu chego ao emprego, já ela há muito que se levantou, já há muito que aguarda pelo início do rebuliço da redacção. Não é muito faladora. Na verdade, nunca ouvi uma única palavra a sair da sua boca. Mas está sempre presente. A ouvir as minhas conversas a espiar os meus gestos e a vasculhar de uma forma simpática as minhas gavetas. De vez em quando confesso, fico um bocadinho farta de tanta atenção, de tanto voyeurismo. E atiro-lhe uma lufada de ar quente contra o corpo. Não gosta, sente-se perdida quando o faço. É mauzinho da minha parte, mas até engraçado vê-la a correr, à procura de um lugar seguro, escuro onde se possa refugiar de tal ataque humilhante. Volta sempre. Mesmo quando os panos, espanadores, esfregonas e detergentes das encarregadas pela limpeza do espaço não a deixam sossegada. Espero conseguir continuar a protege-la. Porque apesar das oito patinhas dela e da simpatia que distribui, o seu aspecto frágil confina-a a uma sobrevivência muito limitada.

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