Sempre tive uma paixão pelo universo da fotografia, ou não
tivesse nascido e crescido numa família de fotógrafos amadores. Desde pequenina
que me lembro de andar com uma máquina fotográfica na mão. A maior parte das
imagens que tirei em tenra idade não têm qualidade, mas são acima de tudo
memórias que guardo com muito carinho. É isso que mais aprecio na fotografia,
eternizar os momentos, guardar os cheiros, as texturas, os sorrisos, os sonhos,
as pessoas.
Com o surgimento da internet e principalmente de redes
sociais como o Instagram, a fotografia passou a ser um dos elementos mais
importantes na comunicação. Quase que arrisco a dizer que a fotografia deixou
de ter a tal função de eternização e passou a ser uma linguagem, uma forma de
comunicar com os outros, os nossos hobbies, as nossas vaidades, as nossas
paixões, as nossas actividades. Basta olharmos para o Instagram, a rede social
que mais cresceu nos últimos anos. Privilegia-se a imagem totalmente pensada ao
pormenor, as produções fotográficas, em detrimento de textos longos.
Influenciada por tudo isto, e também por causa do
Reservatório de Sensações, a minha forma de fotografar tem mudado ao longo dos
anos. Se em 2007 quando surgiu o blogue me dissessem que em 2019 estaria a
procurar informação e formação em fotografia de comida eu provavelmente não
acreditaria. De facto, nos últimos tempos as minhas imagens deixaram a vertente
jornalística (área na qual trabalhava e apostava) e passaram a ter cheiro a
tarte de maçã ou bolo de mirtilos. Faz parte mudar, faz parte encontrar novas
paixões e novos desafios.
A fotografia de comida tem sido isso mesmo, um desafio. É um
universo em franca expansão e mudança. Se quando a minha mãe se casou, o estilo
género Teleculinária era considerado in e apetecível, atualmente, é preciso
mais do que uma fotografia captada em modo macro para conseguir captar a
atenção.
Como não tenho qualquer formação nesta área, tenho tentado
aprender com os outros. Procuro informação na internet, participo em algumas
formações e claro sigo os melhores desta área (como a Naida do Frago do Campo,
a Inês do Ananâs e Hortelã, o Rui do Faz & Come, o Célio do Sweet Gula, a
Linda do Call me Cupcake, a Eva do Adventures in Cooking ou a Kimberly do TheLittle Plantation).
No início do mês de junho, tive a oportunidade de participar
no Workshop Food Photography e Food Styling – Truques e Dicas para Fotografar
Comida, orientado pela Naida Folgado e promovido pelos Humor ao Lume.
A Naida Folgado, que já sigo desde o início do
seu Frango do Campo, é uma pessoa extremamente simpática, disponível e acima de
tudo talentosa. Pode não ser a Food Photographer com mais seguidores ou likes
de Portugal, mas para mim é uma das mais importantes. Para além do talento, tem
uma coerência profissional, que vai para além de modas. Ela tem um estilo de
fotografar muito pessoal. Sim, nota-se que também vai buscar influências a outros
profissionais, mas o resultado final é só dela. Como dá para ver sou fã do seu
trabalho e há muito que a queria conhecer.
Portanto, foi um prazer participar
no seu workshop. No qual aprendemos (eu e um grupo simpático de participantes
com os seus projectos também maravilhosos) as bases da fotografia digital,
falámos de luz natural, de composição, de material fotográfico e de edição de
imagem. Parece material pesado para apenas um dia de formação, mas acreditem, a
Naida (assim como os restantes participantes) tornaram tudo bem suave e fácil
de digerir.
Já para não falar no espaço maravilhoso dos Humor ao Lume,
onde aconteceu este workshop. De facto, sabendo que tenho estado a atravessar
um mau bocado na minha vida, tenho de agradecer à Liliana, elemento feminino
dos Humor ao Lume, por ter insistido e insistido para eu participar. Muito
obrigada Liliana. Foi bom começar assim o mês, rodeada de pessoas positivas e
de comida deliciosa. Se não conhecem os Humor ao Lume, vão já pesquisar, pois
podem estar prestes a encontrar os vossos próximos fornecedores de catering.
O workshop ter decorrido neste espaço delicioso, permitiu a
todos ter comida linda para fotografar. Foi super importante ter esta
componente prática, para testarmos junto da Naida e recebermos de imediato o
seu feedback.
Não vou repartir convosco os ensinamentos da Naida. Para
isso terão de marcar presença em próximos workshops que ela desenvolva. Contudo gostaria de partilhar algumas impressões que tenho
descoberto nestes anos a fotografar comida. Não são ensinamentos técnicos, isso
deixo para os profissionais, apenas algumas dicas que para mim fazem toda a
diferença quando entramos nesta área da fotografia. Espero que sejam úteis
estas cinco dicas que vos deixo.
Invistam em formação – Parece básico partilhar isto, mas
muitas vezes optamos por gastar rios de dinheiro em material fotográfico e
esquecemo-nos do mais importante: absorver conhecimento, conhecer as bases. Claro
que podem ser autodidatas, não digo para se meterem num curso XPTO. Existem pequenas
formações online ou até retiros dedicados a esta temática, orientados por
pessoas super profissionais. Alguns bloggers partilham também o seu
conhecimento em ebooks. Passem pelo site da Naida, Por exemplo, e saquem o
livrinho que ela preparou com muito cuidado para todos os que querem melhorar
as suas imagens fotográficas. Mesmo que não queiram ser profissionais nesta
área, invistam em formação, é meio caminho andado para ficarem mais satisfeitos
com o que estão a fazer.
Criem o vosso estilo – Tal como já referi, todos nós hoje,
no advento da internet 3.0, vamos buscar inspiração a diversos sítios. Faz
parte. Eu que nunca tive grandes ídolos, vejo-me constantemente a “babar” por
cima de fotografias de profissionais que sigo nas redes sociais e a sonhar que
conheço essas pessoas ao vivo e aprendo com elas ao vivo. É obvio que vou buscar algumas referências aos seus
trabalhos. Mas faço sempre um exercício, tentar encontrar, dentro das
referências que me agradam, o meu próprio estilo. Copiar o trabalho dos outros
está fora de questão. Por uma questão de princípio, mas também porque
tenho de ser verdadeira comigo mesmo e com aquilo que estou a fazer. E um estilo,
seja ele qual for, cria-se após muita prática, muito erro, muita lágrima
(também). É algo que vai evoluindo, por isso não tenham pressa em lá chegar.
Nem desanimem. Nada acontece sem esforço, pratiquem, pratiquem, pratiquem.
Confiem no vosso instinto – Depois de apostarem na formação,
de conhecerem o básico e de praticarem muito, sintam-se livres para quebrar as
regras. As regras da fotografia permitem ter noção das bases, permitem
controlar melhor as fotos que tiramos. Porém, também incentivam a irmos mais
longe, a explorarmos mais o universo fotográfico. Quando chegar essa altura, não
fiquem presos às regras, sigam o vosso instinto. Se ele vos diz para procurarem
uma nova perspectiva, novos props, novas cores, novos ângulos ou diferentes
composições – Façam-no. O vosso instinto fará sempre parte do vosso estilo e de
como vocês querem retratar a vossa paixão pela comida.
Menos é mais – Este lema é uma das grandes tendências de
futuro. Somos bombardeados todos os dias com imensa informação, com imensas
cores, com imenso consumismo, com imenso ruído de todos os lados. Vivemos em
permanente cacofonia. O mundo clama por menos, menos show-off, menos lixo,
menos parafernálias. Portanto, no que toca às vossas fotografias, não compliquem,
não pensem em demasia, não dramatizem em excesso. Uma imagem de uma taça de
cerejas pode ser bonita sendo apenas uma taça de cerejas. Explorem a simplicidade.
Criem histórias / criem emoções – Actualmente, muito se fala
de storytelling (uma forma de comunicar que assenta em contar histórias de
forma cativante, de forma a cativar a audiência (mais coisa menos coisa)).
Embora, reconheça que é cada vez mais um chavão do marketing, uma coisa é certa,
as fotografias de comida vivem muito das histórias que encerram dentro de si. Histórias
visuais que se apoiam nas histórias escritas que as acompanham. Não precisam de
ser histórias mirabolantes, contos de encantar, etc. Cada imagem deve conter um
pouco da vossa paixão, de onde herdaram essa mesma paixão, com quem a partilham, que ingredientes vos fazem vibrar, que mesas vos satisfazem, que
cores vos inspiram e que texturas vos fazem sonhar. Ao registar comida, têm que ir para além do óbvio, têm de partilhar as vossas emoções, sem nenhuma
agenda mediática por detrás.Apenas emoções puras e verdadeiras.
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