"É um evento perfeitamente aterrador ser abalroado por peixes achatados." Se procurarem informação sobre o projecto Cardume de Rodovalhos é esta a primeira descrição que vão encontrar. Tenho a certeza que vos vai deixar curiosos. O Cardume de Rodovalhos é um projecto literário que sigo com muito carinho por diversas razões. Em primeiro lugar porque foi o mentor deste projecto que criou a melhor personagem de todo o sempre de policiais. Não conhecem? Então depois de lerem este post sigam para o blogue do Cardume e conheçam o Gregório Policarpo. Vão ver que tenho razão. Em segundo lugar, porque é graças ao mentor deste projecto que eu alarguei os meus horizontes em relação a diversas áreas da literatura. Em terceiro, porque tenho tido a sorte de acompanhar este projecto de perto, muito perto. E em quarto (aqui que ninguém nos ouve) porque o mentor deste projeto é sem dúvida a minha inspiração diária, a força que me impele a não desistir ddos meus sonhos, a pessoa mais bondosa, criativa e com uma qualidade de escrita imensa mas ao mesmo tempo repleto de humildade (o que nem sempre é fácil de encontrar numa mesma pessoa). Sim, sim, tenho muito orgulho no Cardume de Rodovalhos e no seu mentor. Como é a ele que recorro sempre que preciso de uma sugestão na área dos policiais ou do mundo fantástico, desafiei-o a preparar algumas sugestões de prendas de Natal nesta área. E claro depois de receber o maravilhoso texto dele percebi que tenho de renovar a minha biblioteca. Espero que gostem destas sugestões. Não se esqueçam que o Natal está mesmo ao virar da esquina.
O desafio lançado pelo Reservatório de Sensações apanhou-me de surpresa.
O desafio lançado pelo Reservatório de Sensações apanhou-me de surpresa.
“Queres fazer uma lista de livros que recomendes como prenda de Natal?”
A resposta, como é óbvio, só podia ser uma “Não. Porque me estás a pedir isso a mim?” mas rapidamente fui derrotado com um directo “Porque és um leitor ávido, um procrastinador impenitente no que toca a compras de Natal e que todos os anos tem de andar a desenrascar prendas à última da hora.” Isso deu-me que pensar.
Escolher prendas de Natal é uma tarefa agonizante. A pressão de escolher algo interessante que agrade à pessoa visada, mas que seja também também útil e/ou interessante, pode fazer desabar o ânimo do mais optimista dos oblatadores. E portanto, há que arranjar uma solução para quando as ideias faltam e a véspera de Natal espreita perigosamente da esquina à espera de nos emboscar num simples virar de página do calendário. Essa solução, claro está, é oferecermos livros. Há para todos os gostos, tamanhos e feitios, sobre todos os assuntos possíveis e imaginários e temos a vantagem de poder contrapor qualquer demonstração de insatisfação por receberem árvores mortas moídas em pasta com o velhinho argumento “Ó pá, cala-te e lê que só te faz bem.”
Brincadeiras à parte, este rol pretende dar algumas ideias àqueles que, como eu, gostam de espalhar a magia da leitura pelos seus amigos, familiares, etc. mas, ao mesmo tempo, gostam de deixar as compras de Natal “arrumadas” com uma visita a apenas uma loja.
- A SAGA DOS OTORI de Lian Hearn: Esta fabulosa colecção de cinco livros, que começou como uma trilogia, inspira-se na história do Japão feudal para tecer os seus ambientes fictícios e personagens que lá habitam de forma hábil e, apesar de se tratar de um mundo onde o sobrenatural é natural, verosímil. Aconselha-se vivamente a começar pelo 1.º livro (A Tribo dos Mágicos).
- NEVERWHERE - TERRA DO NADA de Neil Gaiman: O humor negro e a imagética de ficção de terror que o autor sabe fazer tão bem caem que nem ginjas nesta deliciosa narrativa dum mundo “paralelo” com entrada nos esquecidos esgotos sob a cidade de Londres. Deixem Londres-de-Cima para trás e aventurem-se com a personagem Richard Mayhew na Londres-de-Baixo.
- THE COLOUR OF MAGIC de Terry Pratchett: O primeiro dos livros de Pratchett a ter lugar no famoso Discworld (um mundo plano com o formato de um disco, assente sobre quatro elefantes, que por sua vez se empoleiram sobre uma tartaruga gigante que nada espaço fora) que havia de ser palco de mais 40 romances e inspirar mais outra dezena ou duas de livros. A maioria dos romances do Discworld são estórias fechadas e como tal podem ser lidos e apreciados isolados dos anteriores. Ainda assim, aconselho a começar pelo primeiro pois, não sendo o melhor livro do autor, é o que melhor introduz o mundo que ele se propôs a criar durante o resto da sua vida. Apesar de existirem traduções em português europeu de alguns volumes da colecção são difíceis de encontrar em livrarias - on-line ou físicas - e a verdade é que o humor de Terry, mestre do trocadilho, perde na tradução por melhor que esta seja.
Heróis de capa e espada em épocas pseudo-medievais? Magia, monstros e poderes sobrenaturais? Dimensões paralelas e jornadas de autodescoberta? Bah, isso é para “meninos”. O que a malta quer ler para exercitar a massa encefálica e se divertir são policiais! Se partilham desta opinião, primeiro tirem um momento para pôr a mão na consciência por acharem que os vossos gostos são melhores que os dos outros…... Agora podem continuar a ler:
- O TRAFICANTE DE ARMAS de Hugh Laurie: Estando mais perto, em forma e estilo, de um thriller de espionagem do que de um mistério policial propriamente dito, o livro do actor que fez de Dr. Gregory House leva-nos numa viagem até aos recantos mais corruptos do complexo militar-industrial. Escrito com um humor acintoso muito próprio, tem uma narrativa de ritmo alucinante com personagens bem definidas e reviravoltas no enredo que conseguem apanhar desprevenidos leitores veteranos do género. NOTA: a versão portuguesa poderá ser difícil de encontrar, felizmente o mesmo não se passa com a versão original em Inglês (The Gun Seller).
- A DAMA DO LAGO de Raymond Chandler: Um dos maiores expoentes do tipo de policial que viria a inspirar os filmes noir, Raymond Chandler criou um dos mais conhecidos detectives privados de chapéu de feltro e gabardina - Philip Marlowe. Esta estória, menos famosa que À Beira do Abismo ou O Imenso Adeus, é no entanto prova de que o autor num mesmo universo e estilo conseguia criar narrativas muito distintas. Com um ritmo mais lento e enredo menos convoluto que outros livros seus, mesmo assim Chandler consegue-nos surpreender com as reviravoltas e desenlace final do romance.
- O NATAL DE POIROT de Agatha Christie: E agora um propositado cheirinho a quadra natalícia. Há opiniões muito díspares sobre a obra de Agatha Christie. Alguns consideram os seus enredos brilhantes, outros uma colecção insofrível de lugares-comuns. Uns consideram a sua escrita como propositadamente acessível, outros como simples e tecnicamente pobre. Uns acham que os seus personagens secundários são caracterizados com clareza, outros acham que esses personagens não passam de arquétipos bidimensionais. De uma forma ou de outra é inegável que a autora representou o pináculo do mistério policial clássico. Christie aperfeiçoou o seu processo de tal forma que rapidamente conseguia publicar best-seller atrás de best-seller como poucos autores conseguem fazer. Os livros onde aparece o seu detective Belga Hercule Poirot são exemplo disso mesmo. Formulaicos? Talvez. Mas a fórmula está refinada com tal destreza que é impossível não nos deixarmos levar pela investigação e tentar adivinhar quem é o culpado. Todos os policiais da autora são recomendados para os fãs do género. Este livro em particular foi escolhido apenas por ser um “especial de Natal”.
E aqui terminam as minhas sugestões para ajudar nas vossas compras da quadra. Boas Festas e boas leituras.
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