The Beginning

Um dia todos iremos morrer. Bater as botas, bater a caçoleta, jogar xadrez com o homem de capuz preto, dormir com os anjinhos. A expressão que preferirem. A morte é a nossa sentença mais certa e exequível. Só não sabemos qual o dia do juízo final. A nossa longevidade pode estar vaticinada, se tivermos a infelicidade de padecer de uma doença tenebrosa, ou se tivermos a felicidade de pertencer à família com maior longevidade do planeta. Mas nada disso é certo.
Porém, eu sabia que iria morrer naquela noite. Naquela em que acordei sobressaltado. Um ruído subtil imergiu no quarto selado pela escuridão e rompeu o meu aligeirado sono. Há várias noites que o meu sono era inconstante ou praticamente nulo. Só o recurso a mais um copo de whisky, sempre pousado em cima da mesa-de-cabeceira, me embalava em histórias menos inquietantes.
Aquela noite era diferente. Eu sabia-o.
Ajeitei-me na cama e deixei-me à escuta. Apenas a minha respiração arquejava no compasso de espera em que de novo aquele barulho se faria notar.
As persianas continuavam corridas, enclausurando o quarto numa escuridão claustrofóbica. E, de repente o mesmo barulho, discreto, como se alguém estivesse a roçar duas pedras à procura de uma faísca certeira.
Não estava doido. Nem o álcool me tinha subido à cabeça. Aquela noite era diferente e não estava sozinho. Pensei nos óculos, pousados ao lado do copo de whisky. Mas na penumbra, não serviriam nem para ver um palmo em frente dos olhos. Deitei a mão ao calmante alcoólico e foquei os olhos míopes no vazio.
A faísca certeira. A chama de um isqueiro iluminou por segundos o quarto, projectando uma identidade na parede opaca.
- JB, muito prazer.
- Like the whisky?, perguntou-me aquela figura anafadamente confiante.
Ambos trinámos uma gargalhada cinicamente pensada.
- Do you mind if I smoke?
- Sinta-se em casa. Espero, apenas, que tenha a amabilidade de me oferecer um desses charutos cubanos.
O cheiro percorria…

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