Perdida em contos

A chuva caía insistentemente sobre o vale, inundando as ruas da pacata aldeia de Barlanquinto, há já uma semana. As chaminés das seculares habitações cuspiam nuvens de fumo adensando a escuridão que se abatia na serra. Henrique, sentado junto à vidraça, ansiava pelo raiar do sol. O petiz perdera a paciência, estava farto de estar fechado em casa, numa casa que não possuía nem metade das mordomias do seu lar na cidade. “ Que apareça nem que seja um raio tímido de sol”, pensou o jovem.
Inquieto, Henrique batia com os dedos nas janelas embaciadas.
“Porque o Henrique tem de manter as ligações com as raízes, porque o Henrique necessita de contactar com a natureza….porque isto, porque aquilo….”, relembrava o menino imitando, em tom irónico, os pais.
Suspirou, ao mesmo tempo que o sue corpo mingava no sofá.
Junto à lareira, enroscada no próprio corpo, Vilma, a gata matriarca de infindáveis gerações, olhou de soslaio para Henrique. Se não fosse uma gata, Henrique até poderia ter jurada que Vilma atirará para o ar uma interjeição de desdém, tipo “pff”.
O jovem de sete anos sentia-se enclausurado. O que estariam os seus amigos da cidade a fazer naquele momento? Provavelmente, a experimentar um qualquer novo jogo para uma das muitas consolas a que Henrique tinha acesso…
.....(H de Herói ou a Terra para Lá da Serra)

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