Dia das Mulheres

Ainda não tive tempo para ler ao pormenor a sondagem que a Universidade Católica realizou, a pretexto do aniversário do PÚBLICO, junto das duas gerações, da que tinha 18 anos em 1990 (e hoje tem 35-37 anos) e da que tinha zero e agora tem 17-19 anos. Segundo uma leitura muito na diagonal, parece que não há diferenças significativas entre as duas gerações ao nível dos valores e atitudes sociais. Contudo, deparei-me com este inter-título: “Mulheres Frustradas”.

“Há contudo, um indicador de que por vezes, os comportamentos ficam aquém deste retrato progressista. Voltando atrás, nos níveis de satisfação dos 35 – 37 anos com o percurso profissional comparando com as expectativas que tinha aos 18 anos, verifica-se que é a população feminina da amostra que contribui com a maior percentagem de frustração: 52 por cento das mulheres declaram que a sua vida profissional está abaixo das expectativas que tinham em 1990, contra 37 por cento dos homens. Porque é que a realidade é pior do que as mulheres esperavam? Não será tanto a nível do acesso a um emprego, porque nisso estamos lá em cima com os escandinavos (proporção elevada de mulheres que trabalhavam). Duas leituras possíveis: tratamento diferenciado no local de trabalho e peso da vida familiar na população feminina, que rivaliza, por assim dizer, com a vida profissional.”

Amanhã, dia 8, comemora-se o Dia da Mulher, um dia que teve início no século XIX, quando um grupo de trabalhadoras efectuou um protesto contra as más condições de trabalho e os reduzidos salários. As circunstâncias laborais têm evoluído positivamente, mas ainda não se atingiu a igualdade entre géneros. Além das sondagens, os estudos também comprovam que as mulheres têm mais dificuldades em progredir dentro das empresas e atingir os lugares de topo. Há um ano atrás, ouvia eu um discurso de uma deputada na Assembleia da República, no qual ela era peremptória: “A maternidade funciona contra as mulheres”, uma vez que os “empresários de vistas curtas” entendem que essa condição da mulher “entorpece a competitividade das empresas”. Discriminação, trabalho precário e medo de exercer os seus direitos foram alguns dos problemas identificados pela deputada. A mesma referiu que “as mulheres desistem de exercer os seus direitos porque têm medo de perder o emprego”. Falta de igualdade, resignação e medo….só podem resultar em frustração. Contudo, e não sei se é consequência desse desapontamento, existe uma apatia por parte do sector feminino. Amanhã, irão realizar-se centenas de “Jantares das Mulheres”. Reuniões infrutíferas, onde se extravasa uma euforia desmedida. Será isto um sinal de independência ou de simples baixar de braços, aproveitando a oportunidade para simplesmente esquecer, por momentos, os vários e forçosos papéis que desempenha diariamente. Não sei. Também eu vou participar num desses momentos, mas espero, daqui para a frente, encetar uma luta mais acérrima pelo respeito de ambos os géneros.

Segundo um estudo do EuroFoundation, as mulheres continuam a receber salários mais baixos, em relação aos homens. Em Portugal essa “diferença de salários atinge quase 20%”.

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