Semáforo do Castigo

O semáforo está encarnado.
Coloco o pé direito na passadeira. Deixo o outro para trás, na borda do passeio. Levanto a cabeça, sem perder o equilíbrio. Olho para a direita e, posteriormente, volto o pescoço para a esquerda.
Nem sinal de carros, carrinhos, carrões, motas ou ‘motoretas’, bicicletas ou demais veículos.
Observo, novamente, o sinal luminoso. Vermelho!
Ao meu lado, embebidas no bulício citadino, centenas de pessoas cumprem a lei de sobrevivência: desrespeitar as normas da conduta social para chegar em primeiro, mais rápido e com menos esforço.
“Vou avançar”, decido eu, seguindo a esmagadora maioria.
Confiante, atiro o pé esquerdo contra a passadeira. Para trás irão ficar meia dúzia de turistas distraídos com os parcos pontos de interesse da cidade.
Um pensamento me assalta. “Estou de férias! Tenho tempo!”.
Indecisão. Para a frente, para trás, de volta para a frente….Indeterminação.

(Pergunto-me:
“Como posso medir o espaço temporal?”
“Tenho tempo?”
“Ou estou a passar pelo tempo?”
“Uso, abuso….desperdiço..?”)

“Estou de férias”, relembro outra vez, parando a divagação cronológica irrelevante! Não preciso de entrar na pista, correr e saltar as barreiras diárias. Conclusão (i)moral: tenho de respeitar o ‘Semáforo do castigo’, hoje, receio, não possuir desculpa alguma.

Desde quando me preocupo a perder tempo com reflexões politicamente correctas. Meditar ocupa uma porção (ainda não calculada) do tempo em que devíamos investir na nossa sobrevivência fisiológica. Por alguma razão cada vez mais o humano se assume um ser irracional. Basta olharmos o contexto em causa: sinal vermelho….a maioria avança….desrespeitando as regras….mas consegue chegar em menos tempo ao trabalho (dinheiro), aos serviços de restauração, cafetaria e bar (alimentação), etc.

(“Mas se a sobrevivência garante a nossa existência…existimos na ‘inexistência do tempo’ (Hoje não tenho tempo estou com a pressa - por exemplo))

Pé ante pé entre pensamentos inúteis, reparo na minha dança mais ou menos coreografada, sem tempos estipulados que possam converter em ritmos belos e agradáveis à vista.
Indecisão. Para a frente, para trás, de volta para a frente….Indeterminação.
Os turistas observam-me pelo canto do olho, desconfiados, fingem continuar a prestar a atenção aos velhos blocos graníticos com história.
Os peões (nova enchente) estabelecem nova batalha. Duas frentes se confrontam. O mesmo objectivo “Sobreviver”. Sinto-me esmagada. A respiração acanha-se no âmago das entranhas.

Nem um único carro….

Vemelho....

1 comentário

A.G. disse...

Bem fui dar uma volta pelo nosso querido blog e fiquei mega surpresa com os teus post (não que achasse q nao eras capaz), mas fiquei de boca aberta para a profundidade da escrita, as sensações que transmites não sei... fiquei presa do principio ao fim... senti a necessida de espreitar aqui este teu e só teu blog que desde já digo está muito mas mesmo muito giro...

Miga tu escreves mt mas mt bem mesmo...

Parabens...

Adorei...