Caminhos diferentes

Sinto-te cada vez mais longe. Como se a cada passo que cruzamos juntos, os nossos corações se apartassem para seguir caminhos diferentes. E tão diferente eu te sinto. Os nossos olhares, outrora intensos, viçosos, donos de um mundo cheio, são agora meros estranhos que se observam cabisbaixos, com vergonha, com receio, de que a verdadeira separação transpareça na imagem que reflectem. Pergunto-me para onde te diriges tu? E que caminho me irá restar? Não há outro lugar onde eu me possa esconder da frustração onde eu me possa aninhar na paz de espírito, onde eu possa ser eu. Não há outro lugar sem seres tu. Mas tu já não és tu, nem uma amostra do que foste. Tu esvaziaste esse universo de possibilidades e preencheste o vazio com a amargura de um chocolate preto, negro, lúgubre. Quem diz tu, diz eu. O que faltou aos meus passos para que te conseguissem acompanhar na dança harmoniosa que no passado coreografavas? Sinto-te ausente. Um sentimento que dói, mas não mata, que arde, mas não cura. Um sentimento maligno que asfixia a minha débil respiração. Um sentimento que tento arrancar a ferros quentes, frios, mornos…com aqueles que permitam libertar o meu peito e desfiram o golpe final. Talvez ai, o vazio seja apenas a consequência de uma cegueira voluntária. Sinto-te cada vez mais longe e temo o dia em que nada dos dois permaneça.

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